Excesso de ambição e burnout: empreendedora alerta para riscos da busca desenfreada pelo crescimento nos negócios 1s3e6j
Letícia Vaz conta experiência com o esgotamento profissional e reflete sobre propósito e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal 1q622x
O desejo incessante por crescimento, mais vendas, aumento de seguidores e visibilidade pode empurrar empreendedores para um lado nada saudável dos negócios. 2w3p43
Ao narrar sua história no terceiro episódio do podcast LVTALKS, Letícia Vaz, referência no empreendedorismo no Brasil, explica que a ambição a fez trabalhar durante 14, 16 e até 18 horas por dia. Em Saia do piloto automático, um dos episódios mais pessoais lançados pela empreendedora, Letícia relata um dos momentos mais difíceis da sua trajetória, o burnout vivido após anos de hiperprodutividade e questiona o motivo para tantos empreendedores, inclusive ela própria, mirarem na perfeição.
"Não existe perfeição", esclarece, lembrando que o início de sua carreira foi de muita prosperidade, mas que isso veio com um preço. "Tudo era oportunidade pra trabalhar, tudo era oportunidade pra criar estratégia, tudo era oportunidade pra criar um produto, tudo era oportunidade de vender, tudo era oportunidade de ser melhor".
"Comecei a entrar numa necessidade louca e uma pira de, todos os dias, eu ter que ser melhor do que eu fui no dia anterior em relação ao trabalho. Eram números gigantes. Então, se eu vendi R$ 1 milhão, agora eu tenho que vender R$ 2 milhões. Se eu tive tantos os no site, agora eu tenho que ter o dobro. Se eu tenho 200 mil seguidores, quem eu sou com 200 mil seguidores, cara? Eu tenho que ter um milhão! E aí eu comecei a entrar num piloto automático, numa corrida desenfreada e uma competição desenfreada comigo mesma", descreve a empreendedora de 28 anos.
Depois de um tempo, o resultado foi um colapso emocional e físico. Para lidar com isso, Letícia precisou se afastar do celular, das redes e das empresas por algumas semanas. A experiência, marcada por momentos de silêncio e reconexão no interior de Minas Gerais, a ensinou que sucesso não é só sobre performance, mas, sim, sobre estar bem consigo mesma.
A partir do que viveu, ela ou a estabelecer limites para como o trabalho influencia sua vida. Isso significa recusar trabalhos, algo que inicialmente a causava ansiedade.
Como dica, a epreendedora deixa os sete aspectos -- chamados de 'bolinhas por Letícia -- que ela estabeleceu para si própria e agora equilibra em seu dia a dia.
- Presença de si: "estar presente no momento em que eu estou, sem responder WhatsApp", diz. Se está almoçando, "quero estar presente no almoço. Se eu estou em uma reunião, eu quero estar presente na reunião. Eu estou desenvolvendo isso em mim, e isso me trouxe uma paz muito grande".
- Relações com as pessoas: "quando você está com uma pessoa e você presta atenção nela e no que ela tem pra falar, ao invés de ficar no celular ou pensando em outras coisas, o relacionamento melhora muito", explica.
- Lazer: fazer atividades fora do trabalho sem culpa, "sem o peso e sem a carga de pensar 'você deveria estar produzindo agora'".
- Espiritualidade: ainda que possa ou não ter ligação com religiosidade, Letícia explica que "ser devota a algo, acreditar em algo maior que você" também ajuda. "Tem muito a ver com propósito", explica.
- Afetividade: "momentos que você separa da sua vida para receber amor e para dar amor", diz.
- Cuidado de si: "não é possível que eu estou nesta vida só para viver o que os outros esperam de mim. Eu estou viva para ser a melhor versão de mim", diz.
- Trabalho: "durante muitos anos da minha vida, a bolinha do trabalho era a única. O resto era tudo jogado pro lado. Você pode ter muito reconhecimento mas você não vai ser uma pessoa completa", pondera a empreendedora.
"A minha vida tem sete bolinhas. A sua pode ter mais, pode ter menos. Mas eu vou exemplificar pra vocês. A partir do momento que uma dessas bolinhas cresce muito, ela rouba o espaço das outras bolinhas", conclui.
