Script = https://s1.trrsf.com/update-1747831508/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Formiguinhas do Amor: a vida gigante de vovó Luceli em Cidade Tiradentes, periferia de SP 4rb4s

Conheça uma das precursoras do bairro Inácio Monteiro, em Cidade Tiradentes, zona leste, liderança natural da comunidade 413ge

21 abr 2025 - 04h59
(atualizado em 23/4/2025 às 12h09)
Compartilhar
Exibir comentários
Resumo
Segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Cidade Tiradentes é de 194.177 habitantes. É um dos mais novos distritos da cidade, com as primeiras unidades de moradia popular inauguradas em 1986. Conheça uma moradora que representa a trajetória de vida e os corres de quem mora no território.
Último andar da casa de vovó Luceli. Moradia popular foi reformada e ampliada. Agora, são duas lajes.
Último andar da casa de vovó Luceli. Moradia popular foi reformada e ampliada. Agora, são duas lajes.
Foto: Arquivo pessoal

Por trás da rotina de uma senhora viúva de 61 anos esconde-se uma história grandiosa. Uma das pioneiras de Cidade Tiradentes, quebrada das mais emblemáticas da zona leste de São Paulo, Maria Luceli Barbosa Andrade, ou simplesmente vovó Luceli, é um verdadeiro exemplo de resistência, fé, generosidade e espírito comunitário. x12m

Em seis décadas de luta, são quatro filhos, sete netos, um casamento feliz, e um legado de solidariedade que cresce com o projeto social Formiguinhas do Amor. Narrar a trajetória de vovó Luceli importa não só pelo pioneirismo em Cidade Tiradentes, nem somente por suas incríveis experiências de vida – mas porque as histórias felizes das quebradas precisam ser registradas.

Ônibus no início dos anos 1990, de extinta empresa de transporte que tinha ponto final em Cidade Tiradentes, zona leste.
Ônibus no início dos anos 1990, de extinta empresa de transporte que tinha ponto final em Cidade Tiradentes, zona leste.
Foto: Reprodução Facebook

Nascida na região da Chapada Diamantina, na Bahia, Luceli cresceu em uma família numerosa: dez irmãos por parte de mãe e o pai, viúvo, ainda teve outros oito filhos com a primeira esposa. Aos 15 anos, mudou-se para São Paulo, indo direto para a Freguesia do Ó. Aos 18 anos, estava casada com o baiano que conheceu no ônibus — coincidência ou destino, chegaram à capital paulista no mesmo dia de janeiro de 1981.

Durante quase quatro décadas, construiu sua história ao lado do companheiro: quatro filhos, uma mudança para a Brasilândia e, depois, para o bairro Inácio Monteiro, em Cidade Tiradentes, onde vive há 33 anos, em uma casa de três andares que cresceu com o tempo — e com muito suor. “Nós nem sabíamos como construir uma casa. Os pedreiros bebiam, deixavam o material molhar, meu marido brigava todo dia com eles”, lembra.

A casa de vovó Luceli fica no bairro Inácio Monteiro. Com três andares, de cima é possível ver ao longe o horizonte de Cidade Tiradentes.
A casa de vovó Luceli fica no bairro Inácio Monteiro. Com três andares, de cima é possível ver ao longe o horizonte de Cidade Tiradentes.
Foto: Arquivo pessoal

Casa foi a primeira a ser ampliada na vizinhança 3r2y5n

Quando Luceli chegou a Cidade Tiradentes, em 1992, a região era quase um ermo: poucos ônibus, sem posto de saúde, comércio fechado às segundas e um pedágio assustador na ponte que ligava ao bairro Juscelino Kubitschek. “Os cara matava mesmo. Mudamos pra cá sem conhecer nada”. Mas Luceli resistiu. Criou os filhos, viu os netos nascerem e ajudou a comunidade a florescer. Sua casa nunca alagou. “Fica numa esquina, a visão é linda”, conta orgulhosa.

Foi dona de mercearia, a primeira da região. “Fechamos porque eu ficava sozinha. Tinha que ir à noite comprar mercadoria, voltava de madrugada, não dava mais”. Com o tempo, a casa virou um lar para todos. Hoje, duas filhas e quatro netos moram com ela. “Sou viúva, não tenho namorado pra mandar em mim”, diz com um sorriso maroto. “Meu marido era muito legal.”

Mesmo com diabetes, a rotina é puxada. Acorda às cinco da manhã para ir à academia, lava roupa, cozinha para os netos, participa do grupo da igreja e ainda arruma tempo para cochilar à tarde.

Voluntárias do projeto social Formiguinhas do Amor preparando alimentos na garagem da vovó Luceli, em Cidade Tiradentes.
Voluntárias do projeto social Formiguinhas do Amor preparando alimentos na garagem da vovó Luceli, em Cidade Tiradentes.
Foto: Arquivo pessoal

Formiguinhas do Amor, projeto social nascido por acaso 6j5t70

A história de vovó Luceli ultraa, muito, os muros da sua casa em Cidade Tiradentes. Após a morte do marido, no início da pandemia, ela decidiu transformar o luto em ação. Nascia ali o projeto Formiguinhas do Amor, nome que remete ao jeito silencioso, humilde, mas potente, com que ajuda dezenas de famílias.

Em memória ao marido — que doava cestas básicas todos os finais de ano — ela mobilizou as filhas, amigos, e até o gerente do supermercado da região. Com apenas 100 reais e uma boa dose de fé, fez cestas básicas com toneladas de solidariedade.

Um dos trabalhos dos quais as Formiguinhas do Amor têm orgulho é a reconstrução da casa de uma mulher em Juquitiba (SP).
Um dos trabalhos dos quais as Formiguinhas do Amor têm orgulho é a reconstrução da casa de uma mulher em Juquitiba (SP).
Foto: Arquivo pessoal

Não só alimentos: são doações de roupas, cadeiras de rodas, camas hospitalares, muletas. Já refez uma casa em Juquitiba, montou uma UTI domiciliar para uma criança e ajuda animais de rua. “Era trabalho de formiguinha, mas foi crescendo”.

Luceli gosta de viver grandes aventuras. Aos 60 anos, decidiu realizar o sonho de voar de balão. Foi a Boituva, interior paulista, cidade conhecida por promover lazer aéreo. Ficaria só no balão, mas viu uma mulher pular de paraquedas e decidiu que era a sua vez. Saltou de 14 mil pés e desafiou até os filhos a fazerem o mesmo. “Foi muito rápido. Quando vi, já estava lá embaixo”.

Projeto Esporte Inclusão - Colorado Castro Alves foi ajudado pelas Formiguinhas do Amor através de rifas para compra do uniformes.
Projeto Esporte Inclusão - Colorado Castro Alves foi ajudado pelas Formiguinhas do Amor através de rifas para compra do uniformes.
Foto: Arquivo pessoal

Potes organizados com alimentos diferentes do rótulo 2a4f59

A vida de vovó Luceli é feita desses pequenos e grandes voos. Das ruas sem asfalto, depois asfaltadas, em seguida com mais ônibus e infraestrutura em Cidade Tiradentes, foi para em Roma, em uma excursão da igreja. Lá, celebrou, mesmo sem ver o Papa, que estava na África.

São muitas conexões e históricas, que representam o crescimento da família e as conquistas da quebrada, como a comunicação. Quando havia poucos celulares em Cidade Tiradentes, que não pegavam bem, ela teve o primeiro telefone fixo. Os vizinhos usavam e, quando vinha a conta, "pagavam direitinho, nunca deu problema", garante.

Vovó Luceli, o marido e os filhos. Apesar de viverem em reduto corintiano, família é predominantemente são-paulina.
Vovó Luceli, o marido e os filhos. Apesar de viverem em reduto corintiano, família é predominantemente são-paulina.
Foto: Arquivo pessoal

Mas, afinal, vovó Luceli, enraizada em Cidade Tiradentes, mudaria de casa? “Gostaria de mudar pra Arthur Alvim, Carrão, mais perto do centro, onde as meninas trabalham. Mas não vou vender essa casa por preço de banana. Ela nunca alagou. Tem história demais aqui dentro”.

Vovó Luceli é uma mulher de fibra que resolveu espalhar amor como quem distribui alimentos nos diversos potes do armário. O conteúdo, entretanto, não corresponde ao nome do produto, escrito do lado de fora. O feijão pode estar com rótulo de açúcar. “É para enganar as formigas”, explica, e chega a jogar a cabeça para trás, de tanto rir.

Fonte: Visão do Corre
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade