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Bets: Vício em apostas on-line tira foco de funcionários, afeta produtividade e causa demissões g5o1r

Profissionais acumulam dívidas, se distraem no emprego, sofrem de insônia e enfrentam conflitos e isolamento 3912s

24 mai 2025 - 09h11
(atualizado em 25/5/2025 às 15h21)
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O vício em apostas esportivas online custou o equivalente a sete anos da reserva financeira do gestor comercial Gustavo Henrique, 25. O que começou como uma brincadeira se transformou em dependência: ele ite ter fingido trabalhar enquanto apostava pelo celular durante o expediente.

Demitido há menos de um mês, Gustavo agora enfrenta mais de R$ 80 mil em dívidas e uma profusão de incertezas. "Foi a primeira vez que me vi viciado em algo. Não conseguia parar. Corro o risco de ter as contas bloqueadas pelo banco, tenho aluguel para pagar... Não sei como vai ser", desabafa o gestor.

O profissional é uma das milhares de faces da "epidemia das bets", termo usado por especialistas para descrever o crescimento desenfreado de pessoas envolvidas em apostas esportivas online.

O fenômeno já representa um problema de larga escala e se manifesta no ambiente de trabalho tanto de formas evidentes quanto por sintomas silenciosos.

No Brasil, 54% dos gestores dizem que os colaboradores aproveitam o horário de descanso, como a pausa do almoço, para apostar. A informação é de uma pesquisa divulgada neste ano pela Creditas Benefícios, em parceria com Wellz by Wellhub e Opinion Box, que ouviu 405 gestores e profissionais de RH.

Sobre os impactos no ambiente de trabalho, 66% apontam que o vício compromete a saúde mental e física dos funcionários. Em seguida, aparecem a queda na produtividade, com 59%, o aumento da rotatividade, 21%, e a piora na reputação da empresa, 16%.

Em sete meses, Raissa acumulou dívidas em sete bancos, estourou todos os cartões e precisou contar à família.

Em janeiro de 2022, decidiu fechar a loja por não ter mais condições de arcar com as contas mensais. Desde então, desinstalou os aplicativos de apostas e voltou ao mercado de trabalho formal, no qual segue há três anos.

Qual a responsabilidade das empresas? a565c

Para evitar casos como os ilustrados nesta matéria, as empresas precisam encarar o fenômeno das bets por uma perspectiva mais ampla de responsabilidade social, argumenta Luciana Morilas, professora de direito na FEA-RP/USP (Faculdade de Economia, istração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).

Apesar da popularização das bets, o Brasil ainda não possui uma lei que regule diretamente o uso de apostas esportivas no ambiente de trabalho.

A regularização das apostas de quota fixa, as bets, foi sancionada em dezembro de 2023, por meio da Lei nº 14.790. No entanto, a norma trata principalmente da tributação e funcionamento do setor, sem abordar condutas relacionadas ao mercado de trabalho.

Com relação a demissões por causa de apostas durante o expediente, a docente frisa que a empresa pode demitir com base em critérios como a quebra de conduta, o impacto no desempenho ou questões disciplinares, desde que respeitados os direitos do trabalhador e o devido processo legal.

Regularização das bets não contempla condutas relacionadas ao mercado de trabalho. Especialistas cobram governo para criação de políticas públicas voltadas ao tema.
Regularização das bets não contempla condutas relacionadas ao mercado de trabalho. Especialistas cobram governo para criação de políticas públicas voltadas ao tema.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que as empresas devem adotar uma postura preventiva diante dos impactos das apostas entre colaboradores. As principais recomendações incluem:

  • Oferecer apoio psicológico e canais de escuta
  • Capacitar líderes para identificar sinais de vício
  • Criar políticas internas e ações educativas sobre o tema (canal de educação financeira e rodas de conversa)
  • Evitar julgamentos e promover letramento digital

Do ponto de vista da saúde, o CEO da Zenklub, Rui Brandão, ressalta que o vício em apostas é uma forma de sofrimento psíquico e que as empresas devem tratá-lo como qualquer outra questão relacionada à saúde mental.

Maíra Blasi avalia que o poder público é o principal responsável para realizar mudanças efetivas. "O governo precisa criar limites, sem isso, fica difícil", conclui.

Já para Luciana Morilas, o governo também precisa avançar na criação de leis mais amplas, que contemplem políticas de saúde pública voltadas ao tratamento da dependência, mecanismos de prevenção e normas para proteger trabalhadores afetados.

A reportagem entrou em contato com o Ministério do Trabalho e Emprego para saber se há políticas ou iniciativas voltadas à prevenção ou enfrentamento dos impactos causados pelas apostas online no ambiente de trabalho.

Também questionou possíveis parcerias com outras pastas, como Saúde e Justiça, e se há previsão de fiscalização ou regulamentação específica para o uso dessas plataformas durante o expediente. Até a publicação desta matéria, não houve resposta.

Estadão
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