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Miocardite causada pela covid é mais grave e frequente que a da vacina, ao contrário do que diz post 4w375j

PUBLICAÇÃO NO INSTAGRAM DIVULGA TEXTO QUE INFLA NÚMEROS E USA BANCO DE DADOS INADEQUADO; PROCURADO, AUTOR DO POST DISSE QUE ARTIGO ESTÁ EMBASADO EM REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS 173y2z

6 jun 2025 - 16h11
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O que estão compartilhando: que um novo estudo mostrou que as miocardites induzidas pelas vacinas de mRNA são mais graves do que as associadas à covid-19. 5d1p4

Captura de tela da postagem enganosa
Captura de tela da postagem enganosa
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. Especialistas consultados pelo Verifica apontam que o texto não é um estudo científico, mas sim um artigo de opinião. Ele foi publicado em uma revista sem reconhecimento no meio e contém erros, como a utilização de um banco de dados equivocado e de números inflados sem qualquer critério. Os autores são reconhecidos propagadores de desinformação sobre vacinas e já tiveram artigos retirados de publicações por erros, problemas de metodologia e conclusões não confiáveis.

Estudos científicos publicados em periódicos de renome, como Nature e Jama, demonstram justamente o contrário: que o risco de miocardite é significativamente maior após a infecção por covid do que após a vacinação. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), os casos de miocardite e pericardite relacionados com a vacinação são muitíssimo raros e a maioria dos pacientes se recupera rapidamente após medicação e repouso.

Procurado pelo Verifica, o autor da postagem disse que o artigo está embasado em 341 referências científicas e que o texto derruba o que já havia sido publicado sobre o tema em publicações reconhecidas e confiáveis.

Saiba mais: o Projeto Comprova, do qual o Estadão faz parte, mostrou como os movimentos antivacina se valem de estudos publicados em revistas de baixa qualidade para dar um caráter científico às alegações enganosas que pretendem difundir. Este é mais um caso.

A revista em que foi publicado o estudo - International Journal of Cardiovascular Research & Innovation - não é indexada em bases de dados de publicações científicas, como DOEAJ, PubMed Central, Scopus, MEDLINE e Embase. Isso demonstra que ela não é reconhecida pela comunidade científica internacional, segundo o professor da Unicamp e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Luiz Carlos Dias.

Um dos autores do estudo, o cardiologista Peter McCullough, é um reconhecido ativista antivacina e teve afirmações desmentidas diversas vezes por agências de checagens do Brasil e do exterior. Em janeiro deste ano, o site MedPage Today noticiou que McCullough teve suas certificações profissionais revogadas pela American Board of Internal Medicine (ABIM), entidade equivalente ao Conselho Federal de Medicina do Brasil (CFM).

Além de ser um dos autores do estudo, McCullough é também editor-chefe da revista que publicou o artigo sobre miocardite ser mais frequente em vacinados. "Ele escreve o artigo e ele mesmo o aceita. É algo absurdo do ponto de vista científico", disse Luiz Carlos Dias.

Outros dois autores são vinculados a uma fundação criada por McCullough, que divulga protocolo para tratamento precoce da covid-19 com uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como ivermectina e hidroxicloroquina, e para detox das vacinas covid, o que também não tem base científica (Projeto Comprova, Ministério da Saúde).

Outro autor do estudo, William Makis espalhou a alegação de que a ivermectina tratava câncer, o que foi desmentido pelo Verifica. As agências AFP Checamos, FactCheck.org e Science-Based Medicine apontaram como falsas ou enganosas outras afirmações de Makis.

McCullough, Makis e Jessica Rose, outra autora do estudo, tiveram artigos retirados de publicação por erros, problemas de metodologia e conclusões não confiáveis (aqui, aqui, aqui e aqui).

O que diz o responsável pela publicação

O médico brasileiro que repercutiu o estudo, Paulo Porto de Melo, teve alegações corrigidas em diferentes checagens do Verifica.

Procurado pela reportagem, ele disse que o artigo sobre miocardite está embasado em 341 referências científicas. Ele afirma que a licença de McCullough foi suspensa por razões não relacionadas à sua competência científica, e que não procede a informação de que ele é um autor que "reconhecidamente propaga desinformações".

No entanto, a própria manifestação da ABIM endereçada a McCullough, de outubro de 2022, justificava a decisão de revogar as certificações dele como médico devido a declarações públicas sem base científica sobre supostos perigos ou falta de justificativa para as vacinas contra covid-19.

Outras fragilidades do material

O médico, professor e divulgador científico Adriano Vendimiatti explica que a publicação sobre miocardite não pode ser encarada como um artigo científico, mas como um texto de opinião. "Ele é uma redação, que contém opiniões pessoais, má interpretação estatística e invenções", disse Vendimiatti.

Um dos pontos questionáveis é a utilização de dados do sistema de monitoramento de segurança das vacinas (Vaers), do CDC. O Vaers é um sistema de alerta para eventuais problemas com vacinas, que precisam ser investigados a fundo para detectar se o fenômeno existe e se tem relação com a imunização. Ele é aberto e qualquer pessoa pode inserir dados nele. No site do CDC, consta que "um dado inserido no Vaers não significa que a vacina causou o evento".

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Como mostrou o Verifica, o Vaers é comumente utilizado por movimentos antivacina para difundir a falsa ideia de que os imunizantes são perigosos. "O Vaers aceita qualquer coisa. É um sistema que não pode ser usado como estatística", acrescentou Vendimiatti.

O médico chama atenção para a ocorrência de dados inflados sem qualquer critério. "Por exemplo, eles pegam o dado de eventos adversos de vacina de um estudo e afirmam que, sabendo que há subnotificação, multiplicam por 57. Mas de onde vem esse 57? Não sabemos, não há qualquer explicação para isso", disse o médico.

O farmacêutico e professor de Fisiologia Aclerton Pinheiro acrescenta que o estudo tem afirmações especulativas. "Ele diz que a miocardite vacinal é subnotificada e é de longa duração. Mas não há um dado que prove isso", disse.

O site do CDC afirma o contrário. Segundo o órgão, os casos de miocardite e pericardite relacionados com a vacinação são raros e a maioria dos pacientes se recupera rapidamente após medicação e repouso.

Em relação aos estudos usados como referência, Luiz Carlos Dias diz que o artigo cita uma série de pesquisas de "baixíssima qualidade" publicados em revistas predatórias que, mediante pagamento, publicam qualquer material sem um processo de revisão por pares adequado.

"A própria editora que publicou o estudo (Reseapro Journals) aparece frequentemente nas listas de editoras predatórias", disse Dias.

Estudos em revistas renomadas apontam que miocardite é mais grave em quem pega covid

Estudos publicados em revistas científicas confiáveis apontam o contrário do que diz o artigo divulgado na postagem analisada aqui. Publicado no periódico científico Journal of the American Medical Association (JAMA), um estudo mostrou, em agosto do ano ado, que a miocardite por aplicação da vacina contra a covid-19 é menos grave do que a miocardite causada pela própria covid-19 ou por outros vírus.

Em junho do ano ado, a Nature publicou um estudo que concluiu que a vacina contra covid de mRNA está associada a um aumento do risco de miocardite, mas em "um nível muito mais baixo do que o risco associado à infecção por covid-19?. A pesquisa reiterando uma "clara relação benefício/risco positiva" para as vacinas de mRNA contra a doença.

Um outro estudo publicado na Nature, em 2021, apontou que risco de miocardite, pericardite e arritmias cardíacas é significativamente maior após a infecção por SARS-CoV-2 do que após a vacinação.

Já um estudo publicado pela The Lancet concluiu que as vacinas salvaram milhões de vidas na pandemia.

Estadão
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