Sob ameaça de prisão, Mauro Cid mudou versão sobre trama golpista 4x461
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro alterou relatos em audiência após pressão de Alexandre de Moraes, que ameaçou prisão e rescisão do acordo 25266i
A divulgação do conteúdo da delação premiada de Mauro Cid revelou que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) alterou significativamente sua versão sobre pontos cruciais da trama golpista. A mudança ocorreu durante uma audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), presidida pelo ministro Alexandre de Moraes, que chegou a ameaçar a prisão do militar caso ele não esclarecesse contradições em seus depoimentos. 5d6jn
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O encontro ocorreu em 21 de novembro de 2024, em meio a pressões da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR), que já haviam manifestado parecer favorável à prisão de Cid por descumprir os termos da colaboração premiada. Investigações indicavam que declarações anteriores do ex-ajudante de ordens eram contraditórias diante das provas coletadas.
"O colaborador tem também, não só benefícios, tem também obrigações. E a maior delas é falar a verdade, é não se omitir, não se contradizer", alertou o ministro. Moraes ainda ressaltou que foram fornecidos vários documentos, como mensagens de celulares, computadores e laudos, mas também ocorreram diversas omissões por parte de Cid. "Eu diria que, com todo respeito, uma série de mentiras na colaboração premiada".
Com isso, a audiência seria uma "última chance" para Mauro Cid para evitar prisão e ainda investigação sobre o pai, esposa e filha do ex-ajudante.
Pressionado diante das omissões, Cid detalhou o envolvimento de militares e políticos nos atos que culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023. Moraes questionou diretamente sobre o papel de Bolsonaro e de generais de alta patente no plano "Punhal Verde Amarelo", no financiamento de acampamentos golpistas e na escalada dos atos violentos.
Sobre reunião de novembro de 2022, na casa do general Walter Braga Netto, então candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, Cid havia descrito o encontro como um simples evento entre militares que desejavam tirar fotos com Bolsonaro e Braga Netto.
No entanto, diante de Moraes, itiu que o objetivo da reunião era fomentar um "caos social" para justificar uma intervenção das Forças Armadas e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Outro ponto alterado foi a justificativa para sua saída antecipada de uma reunião com os tenentes-coronéis Rafael de Oliveira e Helio Ferreira Lima, em 12 de novembro de 2022. Nos primeiros depoimentos, Cid afirmou que deixou a casa de Braga Netto para cumprir agenda no Palácio da Alvorada.
Na audiência no STF, relatou que, na verdade, o próprio Braga Netto solicitou sua saída. "Quando entrou no nível das ideias, o general Braga Netto interrompeu e falou assim: 'Não, o Cid não pode participar, tira o Cid porque ele está muito próximo ao Bolsonaro'", declarou.
A delação de Cid também trouxe novos detalhes sobre o financiamento de atos golpistas. O militar modificou sua versão sobre mensagens em seu celular que mencionavam um pedido de R$ 100 mil no final de 2022. Anteriormente, alegava que se tratava de uma solicitação em tom de brincadeira, sem intenção real de concretização.
No novo depoimento, afirmou que não sabia o motivo exato da solicitação, mas que, à luz das investigações, ou a acreditar que o dinheiro poderia ter sido usado para ações contra Moraes — incluindo a possibilidade de prisão ou até mesmo assassinato do ministro, conforme previsto no chamado plano "Punhal Verde Amarelo".
Cid relatou que tentou obter os R$ 100 mil junto à direção do PL, mas o pedido foi negado. Segundo ele, Braga Netto conseguiu o montante com "o pessoal do agro" e solicitou que o dinheiro fosse entregue ao tenente-coronel Rafael de Oliveira. O valor teria sido reado em uma sacola de vinho.
Entenda a denúncia da PGR 3p2r66
Bolsonaro foi denunciado pelos crimes de liderança de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da união e deterioração de patrimônio tombado.
Além do ex-presidente, a PGR também denunciou nesta terça-feira, 18, o ex-ministro general Braga Netto e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e outros 31 pelos crimes de:
- Golpe de Estado;
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Organização Criminosa.
O objetivo, segundo o relatório, era estabelecer uma "falsa realidade de fraude eleitoral" para que sua derrota não fosse interpretada como um acaso e servir de "fundamento para os atos que se sucederam após a derrota do então candidato Jair Bolsonaro no pleito de 2022".
A investigação aponta ainda que a o ex-presidente tinha conhecimento de um plano para matar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Em nota, a defesa de Bolsonaro afirma que o ex-presidente "jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam". Também alegou ter recebido com "estarrecimento e indignação a denúncia da Procuradoria-Geral da República"
Com as novas informações, a PGR recuou do pedido de prisão de Mauro Cid e sugeriu a manutenção do acordo de delação premiada — decisão que foi aceita por Moraes.