Captain Blood enfim zarpa, mas naufraga nos próprios tropeços 3p213i
Após anos no limbo, jogo de piratas finalmente ganha vida, mas entrega uma experiência travada no tempo 4p251
Captain Blood é um caso curioso. O título estava originalmente previsto para ser lançado no primeiro Xbox. Com o ar dos anos, o foco do desenvolvimento migrou para o Xbox 360, mas o projeto enfrentou inúmeros problemas, incluindo trocas de direção, até ser eventualmente descontinuado. A premissa era bastante interessante para a época e, mesmo após décadas, ainda é possível contar nos dedos quantos jogos com foco em piratas realmente se destacaram. 1l3p39
Quinze anos depois, Captain Blood saiu da gaveta e finalmente foi lançado. A mesma desenvolvedora que estava à frente do projeto naquela época, a SeaWolf Studio, uniu forças com a General Arcade para fazer o jogo ver a luz do dia. No entanto, com todo esse tempo de espera, é natural questionar se o título não se tornou um daqueles casos em que o sucesso só faria sentido em gerações adas e agora soa como algo datado.
Navegando em águas misteriosas 3c2164
Algo que não deve ser de conhecimento para muitos é que este jogo é uma adaptação de um romance escrito por Rafael Sabatini. O livro foi publicado em 1922 e acompanha a história do Capitão Blood, que antes de se tornar um pirata era um doutor acusado de traição por cuidar de feridos. Após se tornar escravo e conseguir fugir, ele parte em sua jornada para se tornar um pirata conhecido, enquanto precisa lidar com as frotas espanholas, inglesas e outros piratas caribenhos.
A trama do livro é bastante interessante, mas gostaria de dizer o mesmo sobre a vista ao longo do jogo — o que não acaba sendo o caso. Nele, também acompanhamos o Capitão Blood, em meados do século XVII, com boa parte da campanha se ando na Espanha. O enredo principal segue o que é típico de outras obras de piratas: nosso protagonista recebe uma promessa feita por Lorde Langford, que está em busca de resgatar sua filha raptada por outros piratas. Ele promete a Blood ouro e glória para concluir o resgate, e com isso partimos em nossa jornada, acompanhados de sua tripulação e de seu braço direito, Walt.
No geral, a história é bastante fraca, tanto nas cenas quanto nos personagens, que são desinteressantes. Uma das poucas coisas boas durante a campanha é justamente a localização para o português, até mesmo nas tipografias. Outro acerto foi a dublagem para os inimigos: como boa parte deles são espanhóis, durante os confrontos eles realmente falam espanhol, enquanto outros inimigos falam inglês, dependendo da fase.
Hack’n’slash com alma antiga 1e1m4s
Por ter sido pensado originalmente para três gerações atrás, o combate acaba trazendo tudo que há de melhor do hack'n'slash e, ao mesmo tempo, entrega como o título já saiu datado. Nosso protagonista usa o tradicional sistema de combos durante as lutas, com o contador exibido ao lado da tela. Os inimigos são separados por classes e por mudanças na paleta de cores. Confrontamos espanhóis e piratas rivais que usam rapineiras, jogam bombas, disparam com mosquetes e outros mais parrudos com uma barra de vida mais elevada. Outro sistema tradicional do gênero é o aviso de quando o inimigo está prestes a perecer, representado aqui por uma caveira. Quando usamos o comando de agarrar, é liberada uma roda com finalizações para pôr um fim de vez no inimigo.
Mesmo que seja sempre bom ver um hack'n'slash retornar, é bastante visível que este título faria sucesso no primeiro console para o qual foi planejado. Os confrontos se tornam desinteressantes já na primeira fase. Os inimigos têm pouca variedade de golpes, alguns podem ser derrotados facilmente apenas com uma agarrada, e o protagonista ser todo desengonçado durante as lutas acaba mais atrapalhando do que ajudando.
As batalhas com chefes são sem alma, a ponto de a trilha sonora ser inexistente durante alguns confrontos. Cheguei a pensar que era alguma opção de som desativada, pois nas lutas havia apenas os sons do ambiente e nenhuma música acompanhando o combate. No entanto, todas as configurações estavam ativas e ajustadas corretamente. Com o tempo, ficou evidente que o título possui um problema sério: além da trilha sonora oscilar entre inexistente e repetitiva nas fases normais, há problemas graves no volume das vozes dos personagens, sendo muito baixas.
Um dos aspectos mais interessantes e bem feitas são as batalhas marítimas. Nelas, temos uma barra que indica quantos navios precisam ser afundados para concluir a fase. O senso de urgência ao ter que destruir outras embarcações enquanto somos invadidos ficou muito bem implementado. O único ponto negativo é que, mesmo sofrendo dezenas de danos, o nosso navio nunca é realmente destruído. Ainda assim, a inclusão desse tipo de missão, que foge das tradicionais presentes no jogo, foi um acerto.
Durante as fases, é possível encontrar baús que concedem moedas usadas nas melhorias, íveis a qualquer momento pelo menu de pausa e ao final de cada episódio. Essas melhorias desbloqueiam novas finalizações, combos, aumento da barra de vida e aprimoramentos para as habilidades utilizadas nas lutas, como granadas e disparos extras para a pistola pederneira.
A variação dos cenários é até bastante boa, com ilhas tropicais, colônias espanholas e britânicas, além das fases em alto-mar. Por mais que exista essa diversidade, a história desinteressante e o combate limitado fazem com que o brilho dessas fases se perca rapidamente. O que resta é a sensação de que tudo está sendo empurrado com a barriga, uma pena esse potencial ter sido desperdiçado.
Considerações 5i713j
Captain Blood é um projeto que já nasceu com atraso. Mesmo com uma boa ideia de base e alguns acertos pontuais, como as batalhas navais e a localização em português, o título sofre com uma estrutura datada, combate pouco inspirado e problemas técnicos que afetam diretamente a imersão. A ambientação tem potencial, mas a execução limitada faz com que tudo soe como uma experiência presa ao ado. Depois de tanto tempo em desenvolvimento, o mínimo que se esperava era algo mais coeso, e isso, infelizmente, não aconteceu.
Captain Blood está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Switch, Xbox One e Xbox Series X|S.
*Esta análise foi feita com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela SNEG.