EUA: Plano para remessas ameaça economias latino-americanas 3z1219
Congresso debate imposto de 5% para transferências de imigrantes ao exterior. Valores para ajudar famílias chegam a superar 20% do PIB de vizinhos.O Congresso dos Estados Unidos debate uma proposta para aplicar um imposto de 5% sobre as remessas enviadas por imigrantes aos seus países de origem. Para países marcados pela pobreza na América Latina, os valores chegam a representar fatias significativas do dinheiro em circulação doméstica. b1y1p
A ideia do Partido Republicano angustia as famílias que dependem dos dólares ganhos pelos parentes em solo americano. Segundo a bancada hispânica no Congresso, a medida afetaria mais de 40 milhões de pessoas nos EUA, entre detentores de permissão de residência e indocumentados.
Morando há 33 anos na Flórida, a hondurenha María Lorenza Carrasco envia cerca de 1,3 mil de dólares mensais para as duas filhas e um irmão que sofre de câncer. "Estou preocupada. Eu não ganho muito neste país e me sacrifico para mandar o dinheiro para eles", diz ela.
Em 2024, o volume total de remessas dos EUA para países da América Latina e do Caribe foi de cerca de 160,9 bilhões de dólares, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Os maiores receptores são o México (64,7 bilhões de dólares) e a Guatemala (21,5 bilhões de dólares).
Brasil recebe bilhões
Como país com o maior número de imigrantes em seu território, os Estados Unidos também são a principal fonte de remessas no mundo, de acordo com o Banco Mundial.
Os EUA foram a origem de 51% das remessas para o Brasil em 2023, o equivalente a pouco mais de 2 bilhões de dólares, segundo o Banco Central. O país foi a principal fonte das transferências, seguido por Portugal e Reino Unido.
De acordo com estudos do Centro de Estudios Monetarios Latinoamericanos (CEMLA), do México, 4,5 milhões de famílias e 9,8 milhões de adultos no país recebem remessas dos EUA. Acima de tudo, as áreas rurais mais pobres se beneficiam delas.
A taxa de 5% seria adicionada a outros impostos que já se aplicam, de modo que o custo de enviar 350 dólares para o México, por exemplo, aumentaria de 6 para 23,5 dólares, de acordo com pesquisa do banco BBVA México.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, criticou a proposta, afirmando que ela viola um tratado em vigor desde 1994 para evitar a dupla tributação entre os dois países. O Brasil, entretanto, não tem este acordo com os EUA, com tentativas de negociação tendo falhado nas últimas décadas.
Dependência econômica
Já em Honduras, as remessas enviadas entre janeiro e abril deste ano superaram os 3,6 milhões de dólares, em um aumento de 20% na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo o Banco Central do país. Mais de 80% das remessas saíram dos EUA, onde vivem cerca de 1,8 milhão de hondurenhos.
Na outra ponta, as mães são as principais destinatárias (38,6% das remessas), seguidas por irmãos (15,3%), pais (15,3%), filhos (10,6%), cônjuges (6,5%), avós (3,7%) e outros familiares (10%). Do valor total, mais de 80% se dedicam a gastos essenciais, como alimentação, saúde e educação.
"Não somos preguiçosos, não somos ladrões, só viemos para tentar ganhar um pouco mais para subir, para poder ajudar nosso país", disse Dalila Galvez, também imigrante de Honduras nos EUA. Os 300 dólares que ela envia para sua família servem para a compra de comida, eletricidade e medicamentos.
Segundo o CEMLA, estas transferências chegam a representar 27% do Produto Interno Bruto (PIB) da Nicarágua. Em Honduras, são 26%, e em El Salvador, 24%.
"As remessas aliviam as restrições orçamentárias de milhões de famílias beneficiárias e reduzem seus níveis de pobreza", explica Jesús Alejandro Cervantes González, especialista da organização. "Elas lhes permitem desfrutar de um padrão de vida mais elevado e ajudam a financiar despesas com bens de consumo, educação, saúde, moradia e, em alguns casos, investimentos em empresas familiares."
Oposição política
Mais de 25 congressistas democratas enviaram uma carta ao presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, o republicano Mike Johnson, para exigir que ele remova a taxa plano orçamentário e fiscal promovido pelo presidente Donald Trump.
O presidente da bancada hispânica, Adriano Espaillat, denunciou em comunicado que "a proposta nada mais é do que um ataque direto às famílias de imigrantes".
"Tributar as remessas - ajuda que sustenta alimentação, abrigo e educação para seus beneficiários - é discriminatório, economicamente perigoso e moralmente indefensável", disse o congressista, que representa Nova York e é de origem dominicana. "Isso vai contra os valores americanos e abre um precedente perigoso."
No México, o senador Antonino Morales, do partido governista Morena, de Oaxaca, chamou o plano de "abertamente discriminatórios e racistas".
ht/cn (EFE, DW)