Atriz de A Viagem viveu até os 90 anos e morreu enquanto esperava para receber prêmio 656n46
No ar na Globo com participação na reprise de A Viagem, atriz sofreu infarto em 2023 enquanto esperava para ser homenageada no Festival de Cinema de Gramado 3r24s
A atriz Léa Garcia, que marcará presença na Globo como Natália na reprise de A Viagem (1994) transmitida no Vale a Pena Ver de Novo, viveu até os 90 anos e morreu em 2023 enquanto esperava para receber um prêmio no Festival de Cinema de Gramado. Relembre alguns trabalhos marcantes da artista que foi pioneira na televisão. 1s5i3i
Pioneira na televisão 565b5m
Dona de uma carreira marcada pelo pioneirismo, resistência e talento, Léa Garcia foi uma das figuras mais importantes da dramaturgia brasileira, tanto no teatro quanto na televisão. A atriz entrou para a história como uma das primeiras mulheres negras a conquistar espaço na televisão brasileira em papéis relevantes e, ao longo de mais de sete décadas de trabalho, rompeu barreiras, viveu personagens complexas e emocionou plateias dentro e fora do Brasil.
Nascida em 1933, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, Léa Lucas Garcia de Aguiar enfrentou a perda precoce da mãe e ou a infância com a avó. Desejava ser escritora, mas sua vida tomou um novo rumo ao conhecer o dramaturgo e ativista Abdias do Nascimento (1914-2011), que lhe apresentou o Teatro Experimental do Negro. Foi ele quem a incentivou a estrear nos palcos, em Rapsódia Negra (1952). A experiência despertou em Léa um amor irreversível pelas artes cênicas.
Seu primeiro grande destaque veio no teatro, com Orfeu da Conceição (1956), de Vinícius de Moraes (1913-1980), e logo depois no cinema, com Orfeu Negro (1959), longa-metragem premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e que lhe rendeu reconhecimento internacional. Em Cannes, a intérprete recebeu menção honrosa pela atuação como Serafina.
Presença na TV 385n2s
A estreia de Léa na TV aconteceu nos anos 1950, na Tupi, mas foi na Globo que viveu algumas das personagens mais lembradas de sua carreira. Em Escrava Isaura (1976), foi Rosa, a primeira vilã de sua trajetória na televisão. A personagem lhe deu visibilidade nacional e internacional, mas também a expôs a situações de violência por parte de espectadores que confundiam ficção e realidade.
Em entrevistas, Léa revelou que as cenas de crueldade com Lucélia Santos (68) a afetavam profundamente: ela chorava após as gravações, tomada pelo peso simbólico daquelas violências. Ao mesmo tempo, via em Rosa uma figura que, mesmo dura, era fruto de uma sociedade cruel com os seus.
Antes e depois desse marco, foram muitos os papéis importantes: Dalva, em Assim na Terra como no Céu (1970); Elza, em Selva de Pedra (1972); Duda, em A Moreninha (1975); e Leila, a professora de história de Marina (1980), que protagonizava discussões sobre racismo e Zumbi dos Palmares em pleno horário nobre.
Sua última grande aparição na Globo foi como Natália, em A Viagem, personagem que tinha a missão de anunciar à protagonista que ela havia morrido.
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Léa Garcia nunca se restringiu a uma mídia: no cinema, sua filmografia é densa e politizada. Em As Filhas do Vento (2005), por exemplo, participou de uma das raras produções com elenco majoritariamente negro e que arrebatou prêmios no Festival de Gramado.
Nos últimos anos de vida, mesmo longe da televisão, Léa seguia sendo reverenciada por novas gerações de artistas e pesquisadores. Era chamada para festivais, debates e homenagens — como a que receberia em Gramado, não fosse o infarto fulminante que a levou.
Foi uma despedida repentina, mas simbólica: partiu como viveu, entre os palcos e as telas, cercada pela reverência à sua história. Ela deixou três filhos, netos e um legado que desafia o esquecimento, mostrando que o talento, quando aliado à resistência, pode atravessar fronteiras e décadas.