Herdeiro woke, fiscal da natureza, boy desconstruído e honesta extremista militam em ‘Vale Tudo’ 26v1g
Roteiro da novela não economiza no discurso politicamente correto que desagrada a uma parcela numerosa do público 132w65
Um dos temores dos fãs da ‘Vale Tudo’ original era (ainda é) uma abordagem politicamente correta no remake. a454l
Aconteceu algumas vezes. Por exemplo, uma das frases marcantes de Odete Roitman – “isso aqui (o Brasil) é uma mistura de raças que não deu certo” – foi eliminada do roteiro.
Provavelmente para deixar a vilã um pouco menos racista, já que aceita como aliada e nora a negra Maria de Fátima.
Em compensação, a nova Odete soltou outra sentença assombrosa ao analisar a jovem vigarista: “Ela nem é tão preta assim”.
‘Vale Tudo’ possui personagens mergulhados na agenda identitária. Provavelmente reflexo da autora Manuela Dias, comprometida com algumas causas, como a sustentabilidade e a justiça social.
Afonso, o milionário woke – O jovem entra em atrito com a mãe, Odete, por exigir que a empresa da família (a companhia aérea TCA) adote políticas de reparação, igualdade e preservação.
Seu discurso está em sintonia com o protocolo ESG (sigla já mencionada por ele num diálogo), que significa em português Ambiental, Social e Governança, referindo-se a diversas práticas no mundo corporativo, como redução da emissão de carbono e equidade entre homens e mulheres, brancos e pretos.
Para muitos, Afonso é apenas um ecochato com comportamento incoerente, já que trabalha (pouco) no conforto do império familiar e vive no luxo às custas da mãe e da tia.
Cecília, a salvadora da natureza – Advogada ambientalista, ela já resgatou aves que haviam sido capturadas por traficantes e acabou na mira de uma arma.
Em breve, vai defender outro crime contra a fauna: o aprisionamento de um mico. Está previsto um atentado que a fará capotar o carro e ficar em coma por um tempo.
Essa dedicação aos animais ofusca a trama amorosa com sua companheira Laís. As redes sociais reclamaram que as duas parecem irmãs ao invés de mulheres que são apaixonadas uma pela outra. Até aqui, nunca se beijaram na boca.
Tiago, o virgem sensível – A Geração Z está representada em ‘Vale Tudo’ no filho de Heleninha e Marco Aurélio. Ele é um típico adolescente desconstruído. Em razão disso, já teve a orientação sexual questionada pelo pai.
Condena o machismo, gosta de filmes de arte e busca ter amigos fora da bolha da elite. Demonstra empatia por todos, senso de justiça e visão crítica sobre os privilégios de ser rico.
O filho perfeito, o neto amoroso, o namorado dos sonhos, o genro que toda sogra pediu a Deus... Mas não caiu nas graças do público. Anda sumido na novela.
Raquel, a padroeira da honradez – Numa conversa com seu pai, Ivan reclama da cozinheira. “A Raquel se acha a pessoa mais honesta do mundo, mas, no fundo, é só soberba dela”, diz.
Não se trata, aqui, de desmerecer a honestidade, qualidade ausente em tantos setores da sociedade, e sim ressaltar a arrogância disfarçada de humildade da mãe de Maria de Fátima.
Em nome da ética, ela se acha no direito (e dever) de criticar, julgar e condenar as pessoas ao seu redor. Comporta-se com intolerância.
Tal extremismo não parece saudável e suscita antipatia em parte do público que, inconscientemente ou não, também se sente espezinhado por ela.
Nas redes sociais, o ativismo pseudo-heroico desses personagens irrita uma parcela do público de ‘Vale Tudo’, especialmente os apoiadores das pautas da direita. Aqueles que juram nunca assistir à Globo, mas sabem tudo o que a emissora exibe.
