Script = https://s1.trrsf.com/update-1747831508/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE
Caramelo   Foto: Beatriz Araujo/Terra

Símbolo da tragédia no RS, cavalo Caramelo vive em universidade e tem fama de 'garanhão'

Cerca de 20 mil animais foram resgatados durante as enchentes no Estado em 2024: 'Animais não eram prioridade', diz ativista animal

Imagem: Beatriz Araujo/Terra
  • Beatriz Araujo Beatriz Araujo
Compartilhar
1 mai 2025 - 04h59

Comer e descansar. Essa é a rotina do cavalo Caramelo, que há um ano foi resgatado de um telhado em meio às enchentes históricas que assolaram o Rio Grande do Sul. Agora, ele tem um campo verde para ear durante o dia, uma baia confortável para ar as noites, mais de 100 mil seguidores nas redes sociais e muitas mordomias na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, onde está desde o resgate do dia 9 de maio de 2024. O Caramelo virou 'pop', mas a mesma visibilidade não tem sido dada aos animais que enfrentaram a mesma enchente e seguem lotando abrigos, à espera de um lar acolhedor.

Cavalo Caramelo, um anos após ser resgatado de telhado nas enchentes do RS, vive com conforto em hospital veterinário de universidade em Canoas
Cavalo Caramelo, um anos após ser resgatado de telhado nas enchentes do RS, vive com conforto em hospital veterinário de universidade em Canoas
Foto: Beatriz Araujo/Terra
  • Essa reportagem faz parte da série O peso da Água, que aborda os traumas e as marcas dos moradores do Rio Grande do Sul mesmo um ano após as enchentes históricas. O Terra ou pelas cidades de Eldorado do Sul, Porto Alegre, Canoas (Mathias Velho) e São Leopoldo.  

O Caramelo a seus dias no hospital veterinário da universidade. Seu principal companheiro é Ovidio Roque Hennicka, cuidador de 70 anos, que trabalha na instituição há 22. Vi de perto a relação dos dois. Roque, como é chamado por todos, tem muito zelo pelo cavalo, que virou o xodó do campus. Ele conta que o parceiro é manhoso, malandro e temperamental. “Mas, a gente sabe lidar com ele, é tudo tranquilo”.

Roque é sempre o primeiro a chegar. Todos os dias, ele faz tudo sempre igual: “Só pelo meu caminhar, ele já sabe que sou eu e já fica pedindo comida. Pego e trato ele, deixo ele comer. Depois, a gente leva ele pra grama e limpa a boia dele. Daí, quando é calor de meio dia, a gente traz ele pra tomar água e volta de novo numa sombra. Lá pelas quatro, ele volta pra baia pra comer e repousar na caminha dele”.

Caramelo não pode ser montado, nem usar freio. Ele também não tem contato com outros animais, pois é “garanhão”, um cavalo macho que não é castrado, explicou Roque. São os combinados que foram estabelecidos, para o seu bem-estar. Nesse um ano, ele engordou cerca de 70 quilos. Está totalmente recuperado – e esbanja beleza nas redes sociais, onde é tratado como uma espécie de influencer digital animal.

Em nota ao Terra, a faculdade informou que seu tutor original não foi identificado. Mas, em conversa com Roque, o que foi dito foi diferente. O cuidador contou que o homem tido como o tutor do Caramelo, reconhecido pelas pessoas da região como quem ficava com o animal, chegou a ir algumas vezes na universidade após o resgate do animal.

“O dono perdeu a posse do cavalo, porque foi registrado maus-tratos”, contou Roque. No relatório de atendimento médico veterinário do cavalo, emitido em novembro, antes dele ser oficialmente adotado pela Ulbra, é descrito que há “evidência clara de maus-tratos” e que, por isso, “é de extrema importância ressaltar que animais que apresentam tais sinais não devem ser devolvidos aos seus tutores originais”. Assim como indicam ser “fundamental que os responsáveis por tais atos sejam devidamente responsabilizados criminalmente, conforme as leis vigentes de proteção aos animais”.

Cavalo Caramelo, um anos após ser resgatado de telhado nas enchentes do RS, vive com conforto em hospital veterinário de universidade em Canoas
Cavalo Caramelo, um anos após ser resgatado de telhado nas enchentes do RS, vive com conforto em hospital veterinário de universidade em Canoas
Foto: Beatriz Araujo/Terra

O Terra procurou pelo homem que afirma ser o tutor do Caramelo, mas não conseguiu contato. Em entrevistas a jornais locais, ao longo do último ano, ele chegou a afirmar que estava com o animal há cerca de sete meses e que usava o cavalo para as crianças da família montarem. O nome do animal, antes, seria Tostado. Ele diz trabalhar com compra e venda de animais e, por isso, também tinha interesse em vender o agora Caramelo.

“Comprei ele e acabou ficando para as crianças montarem, porque ele é bem manso. Nem daria pra vender ele, pois tentei por R$ 2.000 e ninguém quis”, disse o homem, em entrevista à Rádio Gaúcha.

O Caramelo chegou à Ulbra com desidratação leve, desnutrição severa e pequenas lesões de pele. Também foram notados sinais na cabeça e no corpo compatíveis com o de corda e atrelagem – sugerindo que o animal era mantido amarrado por longos períodos. “Mas o estado geral não era ruim”, pontuou o médico veterinário Henrique Cardoso, que foi quem recebeu o Caramelo na Ulbra para os atendimentos iniciais.

Cavalo Caramelo no dia que foi resgatado
Cavalo Caramelo no dia que foi resgatado
Foto: Reprodução/Instagram/@cavalocaramelo.oficial

Assim como o Caramelo, cerca de outros 100 cavalos chegaram à instituição para terem onde ficar durante a enchente, contaram o veterinário e o cuidador. Em nota oficial, a universidade cita 80 animais. A Ulbra se tornou um grande abrigo para pessoas e animais durante 64 dias, a contar de 3 de maio ado. aram por lá, em Canoas, cerca de 8 mil pessoas e 3 mil animais nesse período. Com relação aos animais, o hospital veterinário realizou 1,5 mil atendimentos a animais de pequeno porte, como cães, gatos, equinos e outros.

O veterinário Henrique Cardoso me explicou que 30 dos cerca de 100 cavalos precisaram de atendimento. “Tinham animais muito graves que vieram a óbito, tinha animais com lesões leves e tinham animais que não precisavam de cuidados médicos”, pontuou. Os traumas eram principalmente referentes a cortes e perfurações que os animais se machucavam ao tentarem sobreviver em meio à enchente. Nadando.

Desses 100 cavalos que foram para a Ulbra, um pouco mais da metade eram cavalos que ficavam em hotéis, estimam. “Muitas hotelarias de cavalos que ficaram embaixo da água, que já eram conhecidos nossos, nos pediram ajuda para deixar os cavalos aqui nesse período. Aqui, no Rio Grande do Sul, tem muita cavalgada, né? Muito tiro de laço. São cavalos que são utilizados para esporte e práticas equestres”, explicou o veterinário.

Sobre o assunto, Roque diz que no caso dos cavalos de hotelarias, nem precisavam se preocupar, que os donos até vinham ajudar. Mas, com relação aos demais animais, foram cerca de 6 que não foram buscados por seus donos – e foram doados.

Relembre o resgate do Caramelo

  • • O Caramelo ou quatro dias ilhado no telhado de uma casa em Canoas, no Rio Grande do Sul, em meio às enchentes históricas.
  • • Ele foi resgatado por uma ação do Corpo de Bombeiros de São Paulo no dia 9 de maio, uma quinta-feira. 
  • • Para ser transportado, os socorristas sedaram o animal com uma anestesia geral, o derrubaram em cima do bote e o levaram sob as águas até um caminhão da Brigada Militar
  • • A Brigada Militar levou o animal até a Ulbra, onde ele permaneceu desde o resgate.
  • • Não é precisa a informação sobre onde ele foi encontrado, exatamente. Mas a indicação divulgada é de que foi no bairro Mathias Velho, onde ele vivia antes da enchente.
  • • O resgate do animal tomou as redes sociais e as mídias digitais em maio ado, gerando mobilização de figuras públicas como a primeira-dama Janja e famosos como Giovanna Ewbank, que chegou a manifestar o desejo em adotar o animal.

Símbolo da tragédia no RS?

Cavalo Caramelo, um anos após ser resgatado de telhado nas enchentes do RS, vive com conforto em hospital veterinário de universidade em Canoas
Cavalo Caramelo, um anos após ser resgatado de telhado nas enchentes do RS, vive com conforto em hospital veterinário de universidade em Canoas
Foto: Beatriz Araujo/Terra

O Caramelo foi um símbolo das enchentes, da resistência gaúcha, uma representação da crise climática, que se faz cada vez mais presente. Foi o que manifestaram muitos, principalmente pelas redes sociais, em meio à tragédia. Também foi o que disse a Ulbra, em nota ao Terra, explicando sobre os motivos que levaram à universidade escolher ficar com esse animal resgatado, entre os outros que também aram por lá durante a enchente.

“A Ulbra decidiu abraçar a causa de adoção do Caramelo para evitar que o animal voltasse a ter uma vida de maus-tratos e porque a Universidade tem todas as condições de manter o animal em uma condição saudável, como pode ser atestado”, pontuaram.

Mas essa não foi a impressão que ficou para todos. Na verdade, para alguns, foi o oposto – como notei estando no Rio Grande do Sul. Ao conversar sobre o Caramelo com moradores e ativistas da causa animal na região metropolitana de Porto Alegre, a maioria torceu o nariz. Não o veem como símbolo. Sentem, inclusive, que a questão midiática em torno dele foi “forçada”.

Não que não gostem do animal. Mas a história em torno dele “não desceu”, como me falou um dos gaúchos, que não quis se identificar – como a maioria, ao expressarem suas opiniões sobre assuntos como esse. O que foi unânime entre as pessoas que ouvi é que os “verdadeiros heróis” foram a própria população, que conhecia o território e salvou muitas vidas enquanto também arriscaram as suas próprias.

“Caramelo tornou-se um símbolo da resiliência e resistência dos gaúchos, uma espécie de herói, que necessita ter todos os cuidados que uma instituição como a Ulbra pode oferecer” – Ulbra

A faculdade pontuou que o processo de adoção do animal “foi tranquilo”, realizado junto à prefeitura de Canoas, ainda na gestão anterior, sendo concretizado em dezembro ado. Agora, o animal participa de aulas de observação com os estudantes do curso de Medicina Veterinária da faculdade, como de eventuais pesquisas.

Para quem quiser ver o Caramelo para além das redes sociais, também é possível visitá-lo em um ambiente controlado. A universidade pontuou que ele tem sido visitado por crianças de escolas do município, da região e até de fora do país.

“O próximo o é a construção de um santuário para o animal, onde possa viver solto e na companhia de outros equinos. Para a concretização desta obra, a Universidade busca parcerias para a construção do santuário”, pontua a instituição.

Animais seguem em abrigos

Durante as enchentes, pelo que foi computado pelo governo estadual, foram resgatados cerca de 20 mil animais, encaminhados para 493 abrigos. Agora, um ano após a tragédia, segundo dados que constam no Sistema de Gestão dos Pets (SisPetRS), ainda há 11 abrigos abertos no Estado, acolhendo cerca de 752 animais – sendo 713 cães e 72 gatos.

O Terra solicitou detalhamento sobre esses abrigos que seguem abertos e listados pelo governo, mas não obteve resposta. Foi informado que os dados são s aos técnicos do Estado, por conta da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).

Para dar e à causa animal, foi criado em agosto ado, pelo governo estadual, o Programa Emergencial de Manejo da População de Cães e Gatos em Abrigos, que paga aos abrigos R$ 108,85 por animal acolhido. A verba é reada aos municípios, que, por sua vez, destinam os valores aos estabelecimentos.

Até o momento, apenas dois municípios am convênio: Canoas e Porto Alegre. As prefeituras receberam os rees de R$ 884,4 mil (Porto Alegre) e R$ 1,049 milhão (Canoas), totalizando R$ 1,9 milhão. “Os valores foram reados com base nas informações oficiais das prefeituras quanto ao número de animais fruto das enchentes”, disse o Governo do Rio Grande do Sul. 

O ree do governo estadual para as prefeituras foi único. Quem realiza a gestão de como será feito o ree aos abrigos, são as prefeituras em questão.

“Os convênios entre Estado e municípios acontecem a partir da manifestação de interesse e envio de documentação das próprias prefeituras. Sendo assim, ainda existe a possibilidade de novos convênios. Além de Canoas e de Porto Alegre, o município de Arroio do Meio também manifestou, em 2025, interesse em firmar convênio com o Estado. O processo está em tramitação, em fase de juntada de documentação”, pontuou o governo.

Em paralelo, dentro do Plano Rio Grande, foi contratado o Instituto Medicina Veterinária do Coletivo (IMVC) para realizar um diagnóstico completo da população animal e elaborar políticas públicas que visem à saúde e ao bem-estar de cães e gatos no Estado. O investimento foi de R$ 540 mil para coleta de dados, visitas técnicas a abrigos, análises de iniciativas existentes e formulação de estratégias para a saúde animal. Nisso, já foi entregue um diagnóstico da situação pós-desastre, que o Terra pediu o, mas não obteve retorno.

'Animais não eram prioridade de resgate'

Animais sendo acolhidos após resgate, em maio ado
Animais sendo acolhidos após resgate, em maio ado
Foto: Arquivo Pessoal/Abrigo do Gasometro

O resgate de cavalos era complexo. O do Caramelo foi televisionado. Mas Luisa Sigaran, de 25 anos, viu de perto como acontecia no dia-a-dia de quem não teve todo esse e. Ela ficou na água, dia após dia, durante a enchente de maio ado. Ela conta que planejar o resgate de um equino demorava um dia inteiro. Era preciso, primeiro, conseguir um barco. Além disso, mobilizar uma equipe pequena e eficaz, incluindo um médico veterinário para anestesiar o animal. Como os cavalos são muito pesados, não podiam ter muitas pessoas envolvidas.

“Nem todo mundo queria fazer esse tipo de resgate. Questionavam: ‘Vou deixar de fazer vários resgates para fazer um?"’”, conta ela. Um caso que a marcou foi de um cavalo que estava em cima de uma charrete. Ele estava em um lugar de difícil o. A correnteza era forte. Ninguém queria resgatar ele. Ele estava muito debilitado, comendo muito plástico. Até que ela com uma equipe conseguiu salvá-lo, e as imagens desse momento seguem vivas em sua mente.

“Quando o cavalo fica com uma pata dentro da água durante muito tempo, a pele descola. O couro descola, em pedaços. Como se a pele fosse se decompondo sozinha. Era uma cena de caos. Foi uma ‘alucinação coletiva’ muito grande, e a gente carrega traumas até hoje”, diz.

“A gente ficava com hipotermia direto e não sentia. Eram dias e dias direto. A gente começava às sete da manhã e parava às onze da noite, porque se não a gente ia morrer. Era assim” - Luisa

Luisa se uniu a Cassia Hennimg, Bruna Chiarelli e Rafael Hoffmann, os três de 27 anos, para criar um Hospital Veterinário de Campanha no Gasômetro, em Porto Alegre. Tudo voluntário, tocado pelo quarteto. Luisa ficava nos resgates. Os outros três tocavam os primeiros socorros e providenciavam os encaminhamentos necessários, contando com a ajuda de outras pessoas da comunidade. Somente lá, aram 12 mil animais, em 19 dias (de 7 a 25 de maio).

Luisa acredita que a demanda da causa animal ficou escancarada, e a sociedade não teve a opção de ignorar o assunto. Mesmo assim, seguiram praticamente sem apoios.

Foto: Arquivo/Abrigo do Gasometro

Depois, conseguiram alugar por quatro meses a quadra de um clube, onde pagavam aluguel, luz e água – o que dava em torno de R$ 5.000. Lá, conseguiram fazer com que cerca de 200 animais fossem adotados. Até que, agora, estão em uma espécie de sítio, onde começaram a estruturar um abrigo de animais do zero. No total, até agora, conseguiram promover cerca de 700 adoções. Tudo isso em Porto Alegre.

Eles foram contemplados pelo edital da prefeitura, alinhado com o projeto estadual. Contam que o processo foi burocrativo, envolvendo um edital de mais de 20 páginas e muitos requisitos que precisavam ser cumpridos -- dificultando que outros abrigos fossem assistidos. 

O abrigo, atualmente, conta com 65 cachorros, dois cavalos e algumas galinhas. Há também 30 gatos, que estão em um lar temporário, pois ainda não há uma estrutura para eles no local. No caso, do edital, eles recebem R$ 375 por cachorro. Por cavalos, galinhas e gatos não. Além disso, a ajuda de custo só é dada aos animais que foram resgatados da enchente. Se acolherem qualquer outro cachorro, mesmo que deixado na frente do abrigo deles, ele não entra na conta.

O abrigo é totalmente voluntário. Ao longo de todo o ano ado, os quatro pararam suas vidas para se dedicar à causa animal, sobrevivendo a base de ajudas de familiares e doações. Mas, esse ano, precisaram ir retomando aos poucos as suas vidas, por necessidade, e se dividem entre as tarefas do abrigo, e o pouco da vida pessoal que conseguem tocar. Na prática, trabalham 24 horas por dia, e colocam a mão na massa.

Voluntários que tocam o abrigo e as baias que estão montando, dentro de uma estrutura coberta, para acolher animais
Voluntários que tocam o abrigo e as baias que estão montando, dentro de uma estrutura coberta, para acolher animais
Foto: Beatriz Araujo/Terra

Conforme os abrigos foram fechando, eles se tornaram o “abrigo dos abrigos”, contam. “Muitos abrigos foram fechando e foram enviando os animais de volta pra gente. As pessoas falavam: 'Veio do hospital de vocês, tu me mandou esse cachorro, é de responsabilidade de vocês’. Ninguém mais queria ficar com essa demanda”, conta Cassia.

A preocupação, agora, é que o convênio com a prefeitura irá terminar neste mês de maio, pois teve a duração de apenas seis meses.

“De que forma que a gente vai ter um abrigo atuar na causa animal de modo permanente, se a gente não tem patrocínio, a gente não tem empresa parceira, a gente não vai ter mais o convênio, o que a gente vai fazer? Nossa preocupação é o que fazer daqui pra frente”, conta Luisa, que carrega todo o peso do que viveu no olhar.

"Uma vez que a gente para, que é o que a gente tá ando agora, a gente enxerga todo o trauma que a gente sofreu. E aí acaba a força de seguir continuando. Foi um momento que a gente não tinha a escolha de parar. Olhar para trás, enxergar tudo que a gente viveu. E que ainda estamos vivendo e vamos continuar vivendo... Não acabou. O pior sempre foi o pós-resgate, o pós-desastre” - Luisa

Um ano das enchentes

Imagem de drone mostra barco com voluntários buscando pessoas isoladas em casas em meio à enchente no bairro Mathias Velho em Canoas, Rio Grande do Sul (05/05/2024)
Imagem de drone mostra barco com voluntários buscando pessoas isoladas em casas em meio à enchente no bairro Mathias Velho em Canoas, Rio Grande do Sul (05/05/2024)
Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

Foram 418 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul que declararam estado de calamidade ou de emergência em maio ado por causa das enchentes. Entre as cidades mais afetadas estão Canoas (157,8 mil atingidos), Porto Alegre (125.274), São Leopoldo (90.371), Rio Grande (70.930), Pelotas (49.795), Eldorado do Sul (32.509), Guaíba (31.175), Novo Hamburgo (29.161), Alvorada (25.825), Esteio (19.970) e Igrejinha (16.683).

Já considerando a porcentagem da população atingida, as cidades mais afetadas no Rio Grande do Sul pela enchente foram Eldorado do Sul (82,2% da população), Muçum (79,1%), Roca Sales (54,55), Arambaré (51,9%), Travesseiro (51%), Igrejinha (50,9%), Colinas (49,6%), Arroio do Meio (48,2%), Marques de Souza (45,5%), Canoas (45,4%), São Sebastião do Caí (41,7%) e São Leopoldo (41,6%).

No total, em todo o estado, 970.788 pessoas foram atingidas pela enchente. Quantidade superior à de estados brasileiros como o Acre (880.631), Amapá (802.837) e Roraima (716.793), que possuem menos de 1 milhão de habitantes cada, de acordo com o Censo de 2022. É como se a enchente tivesse devastado todo um Estado.

*A repórter viajou para o Rio Grande do Sul à convite do Instituto Ideias de Futuro (https://institutoidf.org/).

** A série de reportagens O Peso da Água contou com a edição e coordenação de Aline Küller e Larissa Leiros Baroni

Fonte: Redação Terra
PUBLICIDADE