MS: Delcídio avalia que é vítima de "campanha mentirosa" 3q5o6d
Em entrevista exclusiva ao Terra, candidato fala sobre as denúncias de corrupção na Petrobras envolvendo seu nome, relação com Dilma e Lula, além dos projetos para voltar a liderar as pesquisas de voto e se tornar governador de MS 574l20
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Ocupando uma cadeira do Senado desde 2003, Delcídio do Amaral (PT) disputa pela segunda vez as eleições para o governo de Mato Grosso do Sul. O “Filho do Pantanal”, como é chamado em sua biografia no site de campanha, nasceu em Corumbá, fronteira com a Bolívia, no ano de 1955, e formou-se em engenharia elétrica, na capital paulista.
Depois de atuar em grandes empresas do setor energético, Delcídio iniciou a carreira política sendo nomeado ministro de Minas e Energia, em 1994, e em seguida assumiu a diretoria de Gás e Energia da Petrobras. A sua atuação na estatal foi alvo de denúncias na I da Petrobras e respingou na campanha ao Governo, tornando-se tema abordado exaustivamente pelos candidatos adversários. Na entrevista a seguir, o senador avalia que foi “vítima de uma campanha mentirosa”, com o objetivo de “tirar proveito eleitoral”.
Líder no primeiro turno (42%), Delcídio luta para voltar a ter a maioria dos votos na reta final das eleições (última pesquisa Ibope, dia 20, aponta que o adversário Reinaldo Azambuja (PSDB) tem 51% e Delcídio 49% dos votos válidos). O candidato fala da estratégia de campanha que contou com a participação intensa do ex-presidente Lula e o apoio apenas à distância da presidenta Dilma Rousseff (PT).
Para a segunda disputa ao governo, depois de perder em 2006 para o atual governador André Puccinelli (PMDB), Delcídio tem como projetos modernizar e ampliar o sistema de saúde, combater o crime na fronteira por meio de parcerias com o Governo Federal e promete a redução de impostos para aliviar o bolso da população. Ele também fala sobre a questão indígena, defendendo a indenização aos fazendeiros das terras demarcadas pela União.
Terra - No começo da campanha, o senhor aparecia como favorito nas pesquisas de intenção de voto e falava em ganhar a eleição já no primeiro turno. No entanto, o senador não conseguiu alcançar a maioria absoluta nas urnas no dia 5 de outubro, e a eleição foi para o segundo turno, com as últimas pesquisas apontando vantagem do adversário, Reinaldo Azambuja. O que o senhor avalia que aconteceu durante a campanha para perder o posto de favorito? Houve falha?
Delcídio - Em primeiro lugar, eu nunca afirmei que seria eleito no primeiro turno. Sempre disse que teríamos uma disputa acirrada, em função do grande número de candidaturas. O segundo turno é ótimo para a democracia. Uma oportunidade excelente para o eleitor avaliar o currículo dos dois candidatos e optar pelo que achar melhor. Fui o primeiro colocado no primeiro turno e estou trabalhando duro para que as urnas confirmem a vitória em 26 de outubro.
Terra - Os escândalos de corrupção envolvendo o seu partido, PT, e até o seu nome, como no caso da Petrobras (foi acusado pela I de ser um dos responsáveis pela aquisição da refinaria de Pasadena, que causou prejuízos milionários, na época em que era diretor de Gás e Energia da estatal; e receber dinheiro para campanha de empresas ligadas ao esquema da Petrobras) estão atrapalhando a campanha aqui em Mato Grosso do Sul, senador?
Delcídio - Na realidade, eu fui vítima de uma campanha mentirosa, irresponsável e sórdida por parte dos meus adversários para tentar denegrir a minha imagem. Criaram fatos, plantaram reportagens e inventaram depoimentos que nunca existiram. As próprias declarações dos envolvidos comprovam isso. O meu nome não foi citado em nenhum momento pelos investigados. É só conferir os depoimentos vazados pela imprensa. Quando Pasadena foi comprada eu já não era diretor da Petrobras havia 6 anos. Eu ocupei, com muita honra, a Diretoria de Gás e Energia da Empresa de 2000 a 2001 e tive todas as minhas contas aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. Tão logo termine a campanha, vou entrar na Justiça pedindo a punição desses criminosos que me caluniaram visando, pura e simplesmente, tirar proveito eleitoral.
Terra - Senador, a sua campanha perdeu peso pelo fato da presidenta Dilma não ter vindo ao Estado? Ou isso na verdade funcionou como estratégia para não prejudicar a campanha, considerando a minoria da preferência dos eleitores que a presidenta tem em MS?
Delcídio - Sou o maior cabo eleitoral da presidenta Dilma em Mato Grosso do Sul. Peço voto para ela todo dia, em todos os lugares. Infelizmente ela não pode vir ao nosso estado durante a campanha porque precisa priorizar os maiores colégios eleitorais e a gente entende isso. As pesquisas sérias indicam que ela vai vencer a eleição também aqui. É só esperar para ver.
Terra - Foi uma preferência do partido utilizar mais a imagem do ex-presidente Lula durante a campanha (inclusive com a participação dele no lançamento da candidatura)?
Delcídio - O presidente Lula esteve conosco no primeiro turno duas vezes. O carisma e a força eleitoral dele são incontestáveis. E ele sempre nos traz números extraordinários de quanto o Brasil avançou nos últimos 12 anos. Ele volta agora no segundo turno e por mim viria mais vezes.
Terra - O senhor apresenta uma proposta de mudança para a política do Estado, mas escolheu o deputado estadual Londres Machado, que cumpre o seu 10º mandato na Assembleia Legislativa, para ocupar o cargo de vice. Quais mudanças reais o eleitor pode contar, no caso de ser eleito?
Delcídio - O deputado Londres Machado é um parlamentar experiente, profundo conhecedor dos problemas de Mato Grosso do Sul e vai me ajudar muito no relacionamento com os deputados estaduais. Quero ter uma convivência harmônica com a Assembleia Legislativa para evitar que aconteça no estado o que aconteceu na capital, Campo Grande, onde o prefeito Alcides Bernal teve o mandato cassado em função de divergências com os vereadores. Além disso, ele exerce forte liderança na grande Dourados e pode contribuir na discussão de projetos com as istrações municipais. O eleitor sabe que minhas propostas são modernas, exequíveis e tecnicamente embasadas porque foram elaboradas por gente que entende do assunto. Vamos construir um estado tecnológico, digital, ágil, simples, desburocratizado, onde haja respeito pelo cidadão.
Terra - O candidato vem de Corumbá, que assim como outros municípios do Estado faz fronteira com os países vizinhos e enfrenta graves problemas de segurança, como o tráfico de drogas e roubo, principalmente de camionetes. Qual sua proposta para combater o crime nessa região?
Delcídio - Vamos caminhar de mãos dadas com o governo federal. Fazer com que a Polícia Militar, a Polícia Civil e o nosso Departamento de Operações de Fronteira trabalhem de forma integrada com a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Força Nacional e as Forças Armadas, combatendo o narcotráfico, o roubo de veículos e o contrabando, e zelando pela segurança da nossa fronteira. Vamos garantir salários justos, armamento adequado e equipamentos modernos para que as nossas polícias desempenhem bem sua função. Além disso, até o final do ano começa a operar o SISFRON, sistema de monitoramento dotado de aviões não tripulados, satélites, radares fixos e móveis monitorando a fronteira. Mato Grosso do Sul é pioneiro nesse projeto. Somos parceiros dessa empreitada que, sem dúvida alguma, vai melhorar muito a segurança na fronteira.
Terra - O Estado virou notícia nacional por conta das disputas de terras entre indígenas e fazendeiros. Qual a sua posição, senador, sobre a questão? Pretende, se for eleito, criar alguma comissão estadual para ajudar a União na solução do ime?
Delcídio - Eu acompanho de perto esse assunto há vários anos. Converso com todas as partes envolvidas – produtores , índios, as ONGs e o poder público. Por isso, não tenho dúvida de que a solução é o estado reconhecer que errou ao titular, no ado, terras comprovadamente de ocupação indígena e, agora, indenizar os produtores que, de boa fé, adquiriram essas terras e criaram ali suas famílias, muitas das quais estão na mesma propriedade há mais de 100 anos. Temos que contemplar os dois lados: os índios que precisam ampliar suas áreas e preservar sua cultura, e os produtores, com o ressarcimento pelas benfeitorias e a terra nua. No caso específico dos conflitos que ocorreram nos municípios de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, o acordo está bem próximo. O governo ofereceu R$ 80 milhões pelas fazendas e os produtores pedem R$ 124 milhões. As negociações prosseguem e até o final do ano devemos chegar a um valor intermediário que colocará fim a essa disputa.
Terra - A saúde é um problema para a população que vive tanto na Capital como no Interior. Se eleito, já no primeiro ano de governo, com base na realidade financeira do Estado, o que será possível fazer para melhorar o atendimento e reduzir as filas de pacientes, que muitas vezes morrem enquanto esperam?
Delcídio - Vamos levar médicos especialistas e exames por imagem para 11 hospitais do estado, interligar todas as unidades de saúde por computador para facilitar o agendamento de consultas e internações, fazer um mutirão de cirurgias nas áreas de ortopedia, oftalmologia e gastrenterologia. Ainda vamos construir os hospitais regionais de Três Lagoas , Corumbá e Dourados, além de terminar o Hospital do Trauma em Campo Grande. Também vamos investir em saúde preventiva com unidades móveis, que percorrerão o interior do estado, fazendo consultas e exames.
Terra - O senhor fala em redução de impostos, como o ICMS de cinco produtos da cesta básica e da conta de luz para quem consome até 200 kwh, o que segundo seu programa corresponde a 60% das famílias. No entanto, o ICMS corresponde a uma das principais fontes de receita para o caixa estadual. Na prática, como reduzir o imposto e ainda assim garantir a implantação das propostas de investimentos na saúde e educação, por exemplo, caso seja eleito?
Delcídio - Minha equipe econômica estudou isso a fundo e verificou que é perfeitamente possível reduzir a carga tributária sem causar danos às finanças do estado. Os valores que deixaremos de receber com a isenção ou a redução das alíquotas sobre o diesel e a energia serão compensados com o aumento do consumo desses produtos e de outros para os quais a população destinará o dinheiro economizado. Além disso, vai entrar a arrecadação dos impostos sobre o comércio eletrônico e o estado terá uma folga maior com a renegociação da dívida - vamos reduzir o percentual de comprometimento da receita de 15 % para 9 %.
Terra - Caso seja eleito, quais serão as áreas de atuação prioritárias durante o primeiro ano de governo?
Delcídio - Minhas prioridades são saúde, educação, segurança, geração de emprego e renda e os programas sociais. Vou trabalhar duro no sentido de construir um Mato Grosso do Sul socialmente justo, com economia diversificada, moderno e com oportunidades para todos.