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'O Agente Secreto' é um 'thriller político estiloso e vibrante' candidato a Oscar, diz crítico da BBC 5h4i3y

O filme se a durante a ditadura militar no Brasil e "compensa em empolgação o que falta em sutileza" 366j2k

23 mai 2025 - 16h03
(atualizado em 24/5/2025 às 15h52)
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Wagner Moura interpreta Marcelo, um professor viúvo que tenta fugir do Brasil com o filho durante a ditadura
Wagner Moura interpreta Marcelo, um professor viúvo que tenta fugir do Brasil com o filho durante a ditadura
Foto: Divulgação / BBC News Brasil

Um dos maiores destaques da temporada de premiações deste ano foi Ainda Estou Aqui, drama que ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional e que retrata a crueldade da ditadura militar no Brasil nos anos 70. Agora, um outro filme, com a mesma temática, está ganhando atenção — e também pode se destacar na próxima temporada de premiações. 1v6570

Não que O Agente Secreto tenha a mesma sensibilidade de Ainda Estou Aqui, mas o thriller político, estiloso e vibrante de Kleber Mendonça Filho entrega tanta ação que compensa a falta de sutileza.

O diretor foi premiado no sábado (24/5) em Cannes e o protagonista Wagner Moura levou o prêmio de melhor ator, o primeiro nessa categoria conquistada por uma obra brasileira no festival francês.

O filme se a na cidade de Recife, durante a semana efervescente do Carnaval, e transborda sexo, tiroteios, matadores de aluguel e carros antigos — e mostra uma perna humana decepada encontrada na barriga de um tubarão. É de se imaginar que Quentin Tarantino já seja o fã número um do longa.

Parte do elenco de O Agente Secreto durante Festival de Cannes 2025
Parte do elenco de O Agente Secreto durante Festival de Cannes 2025
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Mesmo com todo o visual exagerado, com cores vibrantes e uma estética grindhouse, O Agente Secreto está enraizado nas angústias e tragédias reais de cidadãos comuns.

Na verdade, seu herói não é um agente secreto, apesar de Wagner Moura ser alto, moreno e tão charmoso quanto qualquer outro superespião do cinema.

Ele interpreta Marcelo, um sujeito pacato que aparece na primeira cena dirigindo seu fusca amarelo com destino a Recife. Leva cerca de uma hora até que sua identidade e seu ado sejam revelados — o filme não tem pressa —, mas, aos poucos, descobrimos que ele é um professor viúvo que se opôs às tentativas de um funcionário do governo de roubar sua pesquisa patenteada. Um grande erro.

Marcelo agora planeja se reencontrar com o filho pequeno, que mora com os avós, e conseguir os documentos necessários para deixar o país. Enquanto isso, ele trabalha disfarçado em um cartório, onde espera encontrar ao menos uma prova oficial da existência da sua falecida mãe, e mora em uma casa de dissidentes supervisionada por uma senhora muito comunicativa e protetora (interpretada por Tânia Maria).

'Personagens grotescamente cruéis' 4t1x4j

Antes mesmo de chegar a Recife, Marcelo encontra um cadáver no pátio de um posto de gasolina — um corpo que ninguém se deu ao trabalho de remover —, o que mostra que ele não é ingênuo sobre o quanto a vida está difícil naquele momento, que o filme chama, com um tom de ironia, de "período de grande confusão".

Mas Marcelo fica chocado ao descobrir que um dos seus inimigos antigos contratou dois assassinos para segui-lo, e fica horrorizado com a falta de moral do chefe da polícia local (interpretado por Robério Diógenes).

Kléber Mendonça Filho e seu elenco têm o dom de criar personagens que são ou profundamente honrados ou grotescamente cruéis. O chefe da polícia local se encaixa na última categoria. Quando ele lê na manchete do jornal que 91 pessoas tinham morrido durante o carnaval, ele aposta, sorrindo, que o número logo vai triplicar.

Apesar de todo o perigo e corrupção no ar, Marcelo observa os acontecimentos excêntricos de Recife com um olhar de turista maravilhado. Ele ri incrédulo de um gato de duas caras, da obsessão de seu filho em assistir Tubarão no cinema, da quantidade de pessoas fazendo sexo em locais públicos, e de uma lenda urbana surreal sobre uma perna decepada que volta à vida e chuta homens em um local de paquera.

Wagner Moura, protagonista do filme, transmite "melancolia silenciosa" em cena
Wagner Moura, protagonista do filme, transmite "melancolia silenciosa" em cena
Foto: GUILLAUME HORCAJUELO/EPA-EFE / BBC News Brasil

Para alguns espectadores, O Agente Secreto pode exagerar um pouco nesses momentos de humor. Com mais de duas horas e meia de duração, o filme divaga aqui e ali, acompanhando vários personagens que sonham em fugir do Brasil, como os frequentadores do Rick's Café Casablanca.

Mas um dos temas centrais do filme é a questão do que é lembrado e do que é esquecido, e Kléber Mendonça Filho, que cresceu em Recife, parece determinado em registrar, na película, todos esses detalhes peculiares antes que eles sejam apagados para sempre.

Além de trazer mais riqueza e comédia para a trama de espionagem, esses detalhes da época, recriados com tanto carinho, reforçam a melancolia silenciosa que Wagner Moura transmite tão bem em cena: de um jeito ou de outro, Marcelo não vai ficar no Brasil por muito tempo para aproveitar tudo isso.

De toda forma, quando O Agente Secreto parece se desvia demais da trama principal, ele retoma o foco, seja com matadores de aluguel jogando um corpo pela ponte, seja com um contato misterioso que promete falsificar o aporte de Marcelo.

Uma perseguição pelas ruas da cidade, coreografada com maestria, leva a um clímax sangrento e espetacular, mas, assim como em Ainda Estou Aqui, ainda há perguntas perturbadoras a serem respondidas e mistérios a serem resolvidos.

Afinal de contas, de quem era aquela perna na barriga do tubarão?

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