"A mãe trans sempre será um alvo na sociedade", afirma influenciadora 6p6g6q
Fabiana Santos, de 31 anos, contou como é ser uma mãe trans no Brasil, o país com mais mortes de pessoas trans e travestis 6o586m
Fabiana Santos, influenciadora trans de 31 anos, falou ao Terra NÓS sobre os desafios e as experiências sendo uma mãe trans.
Aos 26 anos, a influenciadora trans Fabiana Santos decidiu ser mãe. Ela, que na época estava em um relacionamento trans, tinha apenas um objetivo: deixar um legado no mundo. Hoje, aos 31, é mãe de Alex, 3 anos, e Ariel, 1 ano. 516155
Em entrevista ao Terra NÓS, Fabiana contou como é ser uma mãe trans no Brasil, país com mais mortes de pessoas trans e travestis no mundo há mais de uma década, segundo o Dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), publicado no início deste ano.
De acordo com a influenciadora, apesar dos desafios que sabia que enfrentaria, ela continuou se dedicando ao que mais queria. "Sei que essa trajetória não seria fácil porque, infelizmente, mesmo sendo mãe nos documentos, a sociedade tenta anular minha maternidade. O preconceito sempre existirá e eu sempre serei julgada por ser uma mulher trans e mãe", afirmou.
"O Brasil ainda tem muito o que fazer para conseguir abraçar essa causa [da comunidade trans] totalmente. Luto constantemente para que isso não vire uma marginalização constante, pois sou mãe e, acima de tudo, mereço respeito."
Certidão de nascimento
Os filhos de Fabiana são biológicos e frutos do seu antigo relacionamento com um homem trans. Segundo a influenciadora, o primeiro desafio surgiu ao tentar dar entrada na certidão de nascimento da sua primeira filha, Alex. Na época, ela tinha apenas documentos sociais e precisou retificar todos eles para conseguir a certidão.
E, ao tentar novamente, o cartório postergou o pedido de Fabiana, que acabou demorando três meses para conseguir a certidão de nascimento da filha. A influenciadora classificou a situação como "humilhante". Na segunda vez, para retirar a certidão do filho Ariel, ela teve novos obstáculos para conseguir o documento.
"Eles [o cartório] queriam que eu provasse que eu era uma mulher trans e que estava indo fazer o documento do meu filho, pois só assim iriam liberar a certidão", relembrou ela que, na ocasião, já tinha todos os seus documentos retificados.
O episódio constrangedor ficou marcado na mente de Fabiana desde então. "Parecia algo do tipo: 'abaixe suas roupas para vermos e então liberamos o que é de direito dos seus filhos'", disse ao Terra NÓS. Ela, então, procurou ajuda de profissionais para resolver a situação e entregar outras comprovações ao cartório.
Redes sociais
Fabiana destaca que a discriminação que sofre está mais presente nas redes sociais. "São comentários horrorosos e desnecessários, simplesmente pelo fato de eu ser trans e não me relacionar com mulheres cisgênero."
Apesar do preconceito velado no caso das certidões de nascimento dos seus filhos, a influenciadora relata que não sofreu nenhum tipo de transfobia pessoalmente. Muito pelo contrário, Fabiana é bem recebida nos lugares em que frequenta e ela e seu ex-companheiro foram amparados pelas equipes médicas que cuidaram dos partos.
No entanto, isso não significa que não existam desafios. Segundo Fabiana, ela a pelas mesmas dificuldades que as mães cis, como educar os filhos e prepará-los para andar com as próprias pernas. E, por ser uma mulher trans, teme que os obstáculos possam ser maiores no futuro.
Até o momento, os filhos dela são bem recepcionados e cuidados na creche, mas sabe que precisa ajudá-los a lidar com situações adversas. "Por eles serem filhos de pessoas trans, eu vou precisar prepará-los para a escola e o bullying, por exemplo, caso sofram", afirmou.
"Ser uma mãe trans no Brasil é cheio de barreiras. A luta de uma mãe trans é nunca parar de lutar, porque você sempre será um alvo na sociedade."
Fabiana afirma que faz sua parte no presente para que possa vislumbrar um futuro melhor para a comunidade trans: "Eu quero que cada vez mais tenham famílias sendo construídas por mulheres e pessoas trans e que consigamos diminuir o preconceito da sociedade. Quero mostrar que não somos apenas 'trans' e, sim, cidadãs como qualquer outra mulher."