Ana Paula Padrão: “Tive a vida que escolhi. Era o meu sonho" 3r6gk
Em entrevista ao Terra, apresentadora do Masterchef falou sobre a dor de perder um bebê, a decisão de não ser mãe e tabus da menopausa 4uq4d
Desde 2014, Ana Paula Padrão apresenta o Masterchef, o reality show de gastronomia da Band. A imagem da jornalista na bancada do Jornal da Globo ainda é tão presente na memória do público, que até o cabelo daquela época desperta saudade. “A quantidade de pessoas que me pedem para cortar o cabelinho chanel é um negócio que você não imagina…”, conta Ana Paula Padrão, em entrevista exclusiva ao Terra, por videochamada. 1t9m
Ana Paula tem 56 anos, é casada, não tem filhos e é muito envolvida com os temas inerentes ao universo feminino. Fundou a empresa Tempo de Mulher, que promove pesquisas e debates sobre o papel da mulher na sociedade. Ela é a idealizadora do evento 'Mulheres Pós 2020', realizado no dia 16 de dezembro, com transmissão ao vivo pelo Terra.
"Quando comecei a fazer eventos, por volta de 2010, os temas eram muito mais simples: falavam de ‘mulher no trabalho’, de maneira muito genérica. A gente não discutia gênero, raça, sexualidade, menopausa, direitos das pessoas homossexuais, trans, homofobia… Assuntos que hoje são muito quentes – e devem ser –, porque estamos falando do direito das pessoas."
Nesta entrevista, Ana Paula Padrão revela que não aceita pressões externas – “Não ito” –, mas que, por um momento, sentiu-se pressionada por si mesma para ser mãe. Depois de perder um bebê, porém, concluiu que a maternidade não era a sua vontade. "Tenho tido uma vida perfeitamente feliz sem filhos. As coisas que eu vi no mundo, os lugares que eu visitei, a carreira que eu construí, talvez não fossem possíveis se eu tivesse tido filhos."
Leia a entrevista que Ana Paula Padrão concedeu ao Terra.
Terra: Você se preocupa com o fortalecimento das mulheres. Você lembra como isso virou uma questão na sua vida?
Ana Paula Padrão: Eu me lembro super. Foi um processo que começou quando eu fazia muitas reportagens que envolviam mulheres. Todo país que visitava, eu procurava entender como as mulheres se comportavam e quais eram os problemas delas. Quando fui para o Afeganistão, vi um país onde as mulheres não podiam trabalhar, não podiam estudar, tinham que andar de burca. Comecei a pensar como as mulheres, nos lugares mais diferentes do mundo, tinham alguma coisa parecida entre elas. Percebi que todas as angústias que eu carregava eram muito parecidas com as de todas as mulheres. A gente só não falava sobre isso. Desde então, adotei como princípio falar sobre aquilo que me incomoda, porque, em geral, também está incomodando outras mulheres. Não estamos sozinhas. Tem outra mulher sentindo a mesma coisa do seu lado.
Terra: Você se sentiu pressionada para ser mãe?
Ana Paula Padrão: No meu caso, a pressão veio de mim mesma. Não sou uma pessoa que ite pressão externa, porque eu não incomodo os outros com o meu comportamento. Então nunca iti nenhum tipo de patrulha sobre qualquer decisão que eu tomasse sobre a minha vida. Assumo totalmente a responsabilidade sobre minhas escolhas. Não fui a menina que sonhava em ter uma casa cheia de filhos. ei a maior parte da idade adulta trabalhando muito e pensando pouco sobre esse tipo de decisão, mas não era um desejo que eu estava adiando por causa do trabalho. Não, não havia desejo.
Terra: No Dia das Crianças, você fez um post sobre maternidade e como a natureza pega no calcanhar da mulher. Foi aí que você pensou em ter filhos?
Ana Paula Padrão: Na idade considerada limite para a reprodução, perto dos 40 anos, comecei a pensar: "Será?". E você conversa com as mulheres e elas falam: "Não dá para não ter essa experiência", "Tem que viver isso na vida". E eu estava em um casamento estável, bacana, meu marido queria e eu tentei da maneira tradicional e não veio. Depois, fiz alguns tratamentos e ainda assim não veio. Cheguei a ficar grávida uma vez e perdi na décima semana. É uma dor profunda. E olha que não era o sonho da minha vida, mas é uma coisa terrível. É avassalador. E aí eu pensei: "Puxa vida, não tinha nenhum ponto de frustração ou infelicidade na minha vida e eu estou inventando um. Não faz o menor sentido". Não só parei de tentar, como comecei a evitar. Agora, eu não quero mesmo! E virou um não-assunto na minha cabeça. E eu tenho tido uma vida perfeitamente feliz sem filhos.
As coisas que eu vi no mundo, os lugares que eu visitei, a carreira que eu construí, talvez não fossem possíveis se eu tivesse tido filhos. Tive a vida que eu escolhi ter, esse era o meu sonho de infância. Queria ver o mundo, queria estar onde as coisas estivessem acontecendo e o que eu fiz? Eu fiz isso. Então eu vivi o meu sonho. Eu vivi o que eu planejei para mim. Não escolhi ser mãe, porque não era o meu sonho ser mãe. Estou dizendo com isso que as mulheres não têm que ser mães? Pelo contrário: eu acho que as pessoas têm que viver aquilo que elas desejam viver.
Terra: Ainda hoje, a gente precisa colocar em discussão esse tipo de cobrança com as mulheres?
Ana Paula Padrão: Existem mulheres que têm vocação para a medicina, outras para o jornalismo e existem aquelas que têm vocação para a maternidade. Que coisa bacana seria se cada uma pudesse seguir sua vocação, né? O problema é que não é assim. Todo mundo espera que, além de ser médica, você também seja mãe. Além de ser jornalista, você também seja mãe. E nem sempre as pessoas são talhadas para isso. E aí você vai ter mais dificuldade em uma tarefa que já é dificílima, que é educar alguém. A mesma coisa acontece com a menopausa. Todas as mulheres do mundo arão pela menopausa. Todas! Quantas discussões você, que tem quase 30 anos, ouviu sobre menopausa nos últimos anos da sua vida? Quantas vezes alguém falou para você: "Olha, agora que você tem 30, cuida disso e daquilo para você chegar bem na menopausa, porque é uma idade que vai complicar, o corpo muda muito"? Quantas vezes você ouviu assim: "Olha, isso que você está fazendo no seu cabelo agora, cuidado, porque, quando chegar na menopausa, acontece tal coisa com o cabelo"? Você ouve isso com frequência">No dia 16 de dezembro, a partir das 10h, será realizado a segunda edição do evento 'Mulheres Pós 2020', que tem o objetivo de aprofundar as discussões em torno dos impactos da pandemia na vida das mulheres e na jornada por igualdade de gênero. Idealizado por Ana Paula Padrão, Lia Rizzo e Cristiano Diniz, o Mulheres Pós 2020 será transmitido ao vivo pelo Terra.