
75 anos de F1: uma metaformose ambulante que ainda apaixona 5jk5r
75 anos atrás, a F1 começava sua jornada e dificilmente poderia achar que chegaria onde chegou. É muito mais do que corrida de carros... 3jpi
Para o fã de automobilismo, hoje é um dia importante. Outros até dirão que não pode ser considerado esporte e que não tem graça ver um monte de caras ficar dando volta em círculos. Esta última talvez tenha sido dita até quando aconteceu o primeiro GP em 1906. Mas não dá para ignorar: a F1 faz 75 anos. 236t62
A comemoração oficial pela F1 se dará no GP da Grã-Bretanha, em julho. Mas não dá para deixar ar em branco. Afinal, se você está lendo este artigo, a grande culpada foi a F1.
Foi em um 13 de maio em 1950, em um Silverstone seminovo (fundado em 1948) e um grid ainda ressentido pelos efeitos da guerra, começou aquele campeonato que se tornou o mais importante e famoso do esporte a motor. Naquele dia, sob a presença do Rei da Inglaterra, não se tinha ideia do que poderia se tornar aquela “brincadeira”.
Não que antes não houvesse corridas de complexidade semelhante. Já tínhamos da corridas de Grand Prix, onde tinham brigas homéricas entre os carros alemães e italianos e pilotos como Stuck, Rosemayer, Nuvolari, entre outros. Pode até se considerar este o embrião do que chamamos de F1, cujo nascimento veio em 1946. Algumas provas aconteceram dentro das regras estabelecidas, mas o campeonato mundial veio somente em 1950.
Até a década de 60, podemos dizer que a F1 era um grupo de diletantes que se deslocava pela Europa, indo para alguns lugares distantes (havia o GP da Argentina, Africa do Sul e a temporada da Tasman, englobando Australia e Nova Zelandia). Basicamente, uma série de “garagistas”, que gastavam o que tinham e que não tinham para competir.
Aqui, a F1 quase faleceu também já por questões financeiras e técnicas. Não foram poucas as provas em que carros da F2 e de outras categorias tiveram de ser usados para engrossar o grid. Mas começou a criar seus mitos e heróis. Desta época, podemos listar Fangio, Clark, Moss, Farina, Hill, Brabham, Clark, Stewart...
Mas mesmo com as dificuldades financeiras, grandes saltos técnicos foram dados e que definem até hoje diversas soluções. Uma das características da F1 foi sempre buscar o que havia de mais moderno para ser usado para ter mais potência e performance.
Na década de 70, foi o grande salto. Graças à entrada firme de patrocinadores, especialmente as tabaqueiras, e o desenvolvimento dos meios de comunicação, a F1 se tornou um animal totalmente diferente. Aqui, a categoria começa a se tornar muito mais um negócio do que esporte e se livra da concorrência da atenção do Endurance, que ainda tinha uma grande relevância até a década ada.
Nesta época, entra em campo um nome que seguirá a F1 até hoje: Bernie Ecclestone. O britânico vendedor de motocicletas chegou a brincar de piloto (tentou correr em Monaco 1958 sem sucesso), foi empresário de Jochen Rindt e comprou a Brabham em 1972. Ao se tornar dono de equipe, começou a ver uma série de possibilidades de fazer aquele circo mambembe um produto que gerasse dinheiro a rodo. Inicialmente, começou a tratar da logística dos times. Posteriormente, dos prêmios de prova e consolidou seu poder.
A mesma década de 70 acaba por significar a colocação do Brasil no mapa da F1. Algumas tentativas haviam acontecido na década de 50, com Chico Landi, Friz D’Orey, Gino Bianco, Nano Ramos (com nacionalidade sa). Mas foi em 1970 com a chegada de Emerson Fittipaldi, que a categoria vira um amor nestas terras.
Com uma carreira meteórica na Inglaterra, Emerson vira piloto principal da Lotus em pouco mais de 18 meses e vence o seu primeiro GP após 4 provas. As circunstâncias levaram a isso e o brasileiro soube aproveitá-las. Outros brasileiros chegaram um pouco antes dele na Inglaterra, mas Emerson foi quem conseguiu ficar de frente e consolidou o caminho para tantos outros.
O bom desempenho abriu espaço para a realização de um GP e o título de 1972 fez a F1 ganhar um espaço especial no coração dos brasileiros. A primeira prova oficial veio em 1973 e desde então, com exceção de 2020, a F1 bate ponto no Brasil. E nesta mesma época chegou a ter uma equipe própria pelos próprios Fittipaldi.
Foi sobre seu comando na década de 80 que a F1 se tornou efetivamente mundial e alcançou níveis estratosféricos em termos de cobertura. Pelo lado técnico, a F1 entrou efetivamente no campo da eletrônica e abraçou o turbo. Os gastos chegam a níveis jamais vistos e os japoneses efetivamente entram com força com a Honda, que já tinha vindo como equipe na década de 60.
Nesta década, tivemos a ascensão de gênios como Alain Prost, Nelson Piquet e Ayrton Senna (os dois vencendo 5 títulos em 10 anos). E até o título de um piloto que venceu uma única prova: Keke Rosberg em 1982 (uma das temporadas mais loucas da história).
A década de 90 foi determinante para os rumos da F1. Após tantos anos de acidentes fortes e mortes, a estabilidade trazida no período anterior deu a impressão que a segurança havia sido equacionada. Os carros se tornavam cada vez mais velozes e tecnológicos, fazendo cada vez mais a realidade da previsão de anos antes de que o piloto era somente um detalhe.
Mas veio Imola 1994 e as mortes de Roland Ratzemberger e Ayrton Senna mudaram o rumo das coisas. Investimentos foram feitos, velocidades foram reduzidas e os carros se tornaram verdadeiras fortalezas.
Mas o show tem que continuar. E um dos mais brilhantes nomes surgiu: Michael Schumacher. O alemão estreou em 1991 e construiu uma das mais belas páginas da F1, inclusive assumindo a responsabilidade de comandar um mito chamado Ferrari, tendo praticamente carta branca para levar os italianos aos títulos.
Os anos 2000 foram intensos. Schumacher finalmente vence com a Ferrari e domina a primeira parte da década. Aparecem nomes como Fernando Alonso (bicampeão) e um certo Lewis Hamilton...Este por sinal chegou com tudo: em seu segundo ano na F1, em 2008, venceu o campeonato em uma disputa renhida com Felipe Massa, resolvida na última volta do GP do Brasil.
Mas da mesma forma, os escândalos bateram com força: o primeiro, foi o Spygate, com a Mclaren tendo “espionado” a Ferrari em 2007 e sendo multada em US$ 100 milhões e perdendo os pontos. No ano seguinte, a manipulação da batida de Nelsinho Piquet em Singapura, no que ficou conhecido como “Singapuragate” e que dá discussão até hoje, inclusive com uma ação judicial de Felipe Massa para reconhecimento do título.
Não podemos ainda esquecer a crise financeira de 2008 que levou a uma saída de várias marcas e deixou o campeonato em risco para 2009. Porém, deu a brecha para o surgimento da Brawn GP, tocada por Ross Brawn com o espólio da Honda. Jenson Button e Rubens Barrichello dominaram a primeira parte da temporada com o BGP001, que contava com o difusor duplo, o que gerou uma grande discussão. E permitiu a Jenson Button vencer o campeonato.
2009 marcou o início da entrada do hibridismo com o KERS, que permitia usar uma potência extra gerada pela recuperação da energia das freadas. A tecnologia veio com força em 2014, com apoio das montadoras, incluindo a volta dos turbos e a recuperação de energia deles.
A esta altura, uma fabricante de energéticos, a Red Bull, entra no cenário e vence vários campeonatos. A Mercedes, que havia voltado oficialmente em 1994, tinha comprado a Brawn e entra como equipe em 2010. Um novo dominador chega: Sebastian Vettel.
Na era híbrida, a Mercedes sai na frente e Lewis Hamilton se torna o grande dominador da categoria, vencendo 6 títulos em 7 temporadas. Vettel, que tinha ganho 4 títulos em sequência pela Red Bull, vai para a Ferrari. E a Red Bull começa a gerir um nome que dará o que falar: Max Verstappen.
Neste meio tempo, uma troca de guarda: em 2017, Bernie Ecclestone vende a F1 para a estadunidense Liberty Media, em um negócio de US$ 8,5 bilhões. O “anãozinho tenebroso” (assim o apelidou Wilson Fittipaldi) já tinha vendido parte para um grupo alemão. Porém, para salvar as coisas após a crise de 2008, recomprou o negócio e agora ava à frente.
A entrada da Liberty Media significou a uma nova transformação para a F1. A categoria entrou de vez na era digital e ou a buscar uma renovação de público e se tornar mais inclusiva. A epidemia de COVID-19 em 2020 forçou a todos a fazer um modelo de negócio inimaginável: limite de gastos e um sistema de desenvolvimento que penalizava quem se dava melhor.
2021 marcou o fim de uma era e um dos campeonatos mais disputados da história. Após um controverso GP de Abu Dhabi, Max Verstappen bateu Lewis Hamilton e iniciou a sua sequência de títulos, dominando a nova fase da F1, com a volta do efeito solo, introduzido no final dos anos 70 e banido nos anos 80.
Hoje, a F1 se espalha por vários continentes (ainda falta a África), movimenta centenas de bilhões de dólares e tem uma audiência anual de mais de 1,5 bilhões de telespectadores. Conseguiu criar uma rede de fãs ativa e participativa nas redes sociais, se tornando referência para tantos outros esportes. O maior exemplo foi o Drive To Survive, criado para ser divulgado na Netflix e serviu como um belo instrumento de renovação e introdução à categoria.
Ao longo destes 75 anos, a F1 morreu algumas vezes. Mas espetacularmente sobreviveu, trocando de pele e personalidade de formas muitas vezes radicais. Porém, mesmo sendo um espetáculo de máquinas, tecnologias e quantias quase incomensuráveis, mexe com a emoção humana. É uma verdadeira paixão, muitas vezes chegando às raias de uma relação abusiva. Mas que nos faz prosseguir nela a cada dia.
Muita gente teve sua porta de entrada no automobilismo pela F1. Vários ficam nela somente, outros tem como ponto de partida, descobrindo outras categorias. Não se pode esquecer o caráter de abrir espaço tanto para o fã que conhece toda a história da categoria, podendo discorrer sobre a batida no GP da Grã Bretanha de 1973 ou aquele que chegou agora por conta do Drive To Survive.
Ok, pode até ser mesmo um monte de riquinhos andando em círculos e que tem uma série de paradoxos entre posturas, declarações e atos. Mas desde a sua origem, o ser humano quer saber quem é o mais rápido ou que consegue as melhores soluções para tal. É isso que faz o automobilismo seguir mesmo diante de tantas transformações tecnológicas e culturais.
Parabéns pelos 75 anos, F1. Te amo.