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Alok  Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

Alok revela como saiu da depressão por meio das causas socioambientais: "Foi a grande virada" 4t5h4e

Um dos DJs mais famosos do mundo, Alok reflete sobre sua trajetória e explica o que faz para se conectar com o público 3m5m2u

Imagem: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS
  • Christian Gebara Christian Gebara
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Alok
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Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

Quando Alok foi convidado para ser um personagem de “Free Fire”, um game, ele precisava escolher  um superpoder. Decidiu que seu avatar teria o poder da cura. A cultura ancestral deixou marcas muito fortes em sua vida nos últimos anos. Ao conhecer indígenas e aldeias amazônicas, ele se reconectou consigo mesmo, o que lhe deu forças para enfrentar uma depressão em 2015. Surgiu, então, um novo propósito, o de fazer música para disseminar esses valores para o mundo. 1e175p

Desde então, ele trabalha na tentativa de curar também o que há para além das telas dos games. No Instituto Alok, escolhe pautas que vão desde a causa antirracista até a democratização da água potável para  as crianças brasileiras. Aqui, ele fala sobre a potência da natureza em sua vida, os rumos que sua carreira tomou,  como usar a tecnologia para se conectar com o meio  ambiente e se emociona ao contar a história impactante do parto prematuro da filha Raika, com a médica  Romana Novais. Juntos, eles têm também Ravi. Confira nossa conversa a seguir.

Você tem uma carreira meteórica: com 12 anos, já trabalhava com música, depois explodiu e hoje  é internacionalmente famoso. Qual foi o momento  em que percebeu que era um sucesso?

Eu brinco que percebi quando não consegui mais sair para jantar em 2019. Na verdade, em 2017, quando lancei  o “Hear Me Now”, eu já era o 25º DJ do mundo, mas era uma coisa mais segmentada, no nicho eletrônico. Dois anos depois, as pessoas começaram a descobrir que eu era brasileiro. A virada de chave aconteceu aí: eu ei a não ser mais  um artista do segmento eletrônico e fiquei mais pop.

Toda vez em que eu toco, vejo a pista de dança  como se fosse o oceano. Aí está a conexão.  Por mais que eu não cante, não tenha a banda, não saiba dançar, eu tenho a tecnologia como  aliada e acabo contando a minha história ali.

Alok
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Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

Mas os seus pais, que eram DJs, têm a ver com isso também...

Acho que tudo isso é uma continuação da história dos meus pais. Não é uma carreira que começa aos 12 anos, ela continua. Quando eu fui morar com minha mãe na Holanda, eu e meu irmão tínhamos 5 anos, nossos pais já eram separados. Sempre tive uma vida diferente. Lá, a gente morava em uma ocupação, em um hospital abandonado. Minha vida sempre  foi muito livre e eu podia fazer minhas escolhas. Em vários momentos, quis ter uma família mais normal, tradicional. Mas, hoje, entendo que talvez o maior legado dos meus pais tenha sido exatamente me deixar escolher meu caminho.

E qual era esse caminho, Alok?

A escolha do caminho foi em várias direções. Por exemplo, quando eu comecei a tocar, aos 12 anos, eu fazia o que meus pais queriam que eu fizesse. Depois, com 18 anos, estava fazendo faculdade, porque achava muito complexo trabalhar com arte. Via minha família ando muita dificuldade financeira. Queria ter mais estabilidade. Mas meu pai, diferentemente dos outros, me incentivou a trancar o curso e a continuar na música. Decidi dar mais uma chance e descobri ali como expressar o que eu queria: conectar o maior número possível de pessoas através da arte. Acho que é por isso que eu tive essa ascensão na carreira. Mas, aos 24 anos, número um do Brasil por dois anos consecutivos e entre os 25 maiores do mundo, eu ei a sentir um vazio existencial muito grande…

Alok
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Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

Você já falou publicamente de ter estado com depressão. Foi nesse momento?

Sim, parecia que nada fazia sentido na minha vida e acho que foi o ponto em que eu fui em busca de respostas mais profundas. Fui pela primeira vez para uma aldeia indígena, tentando aliviar um pouco essa aflição que eu tinha. A dor era inável. Foi ali que encontrei sentido. Entendi, então, que quanto maior fosse minha carreira, mais gente eu poderia impactar. Foi a grande virada.

Eu não encontrava mais nenhum tipo de inspiração para fazer música. Não queria mais trabalhar assim. Uma amiga mostrou um vídeo do povo da aldeia cantando e eu achei demais, senti vontade de conhecê-los. Bom, não sabia que tinha que pegar três voos, andar por 13 horas de carro e depois ei nove horas em uma canoa. No meio do caminho, me questionei sobre o que estava fazendo ali em um barco, na chuva. A estrada foi fechada por indígenas fazendo uma manifestação porque uma rodovia cruzou a aldeia deles no meio. Eles estavam largados na marginalidade, sem assistência alguma. Fui fazendo baldeações, pegando caronas com desconhecidos. E finalmente cheguei lá.

Alok
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Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

Depois dessa vivência, você decidiu fazer um disco com indígenas. Esse projeto é bem diferente dos outros que você estava acostumado a fazer, como foi esse caminho?

Na cidade, a gente acredita que tem uma cultura mais desenvolvida. Eu percebi que não existe isso. São valores e objetivos completamente diferentes. Eu fazia música para estar no top dez. Eles faziam música para curar e levar a cultura adiante. Ali, decidi que queria que meu trabalho levasse cura emocional ou algum aspecto de positividade. Foi uma grande mudança de paradigmas e aprendizados. Tanto que, quando fui convidado para representar um personagem do game “Free Fire”, eu escolhi o da cura, um poder inédito no game. Muita gente escolheu esse personagem para jogar.

Em 2021, estava me perguntando para onde era o futuro e percebi que o futuro é ancestral. Eu não sabia como ia ser feito, mas eu simplesmente sabia que tinha de ser feito. Liguei para todo meu time para cancelar as programações e fazer esse álbum. No meio da pandemia, tivemos duas semanas de quarentena para as pessoas ficarem mais seguras. Levamos todo mundo para o estúdio e, quando chegamos lá, eu pensei: “E agora? O que faço com eles">

De certa maneira, é uma grande vantagem trabalhar com música eletrônica. Posso fazer um remix do  Fagner com hip-hop... É um espectro mais abrangente.  Coloco artistas populares no palco.

Alok
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Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

Dá para dizer que seu trabalho une as pessoas. Quando você fez a live na pandemia, achei interessante porque todos na minha casa estavam muito vidrados na apresentação...

Quando você me diz isso, sinto que é um ponto de validação da carreira. Toquei pela primeira vez com 12 anos e, quando veio a batida, levantei o braço e todo mundo levantou. Eu pensei: “Quero fazer isso para  sempre”. Sem abrir a boca, consegui me conectar. É meu grande vício. Não fico nervoso quando tem meio  milhão de pessoas na minha frente. Fico animado e quero que tenha o dobro.

Você fala sobre construir pontes e citou essa frase novamente quando gravou com o Fagner, após ele  ter dito algo que menospreza a carreira do DJ…

Eu entendo o que o Fagner quis dizer. Muita gente acha  que o DJ não está fazendo nada. É uma visão reducionista achar que meu trabalho e só apertar o play. E outro ponto: um artista de música eletrônica tocando na festa de São João, que tem a essência da cultura nordestina, é como se fosse um invasor. Acho importante manter a raiz de um evento cultural como esse, mas entender que ele cresce e acolhe diferentes gêneros. Muita gente da nova geração vai lá para me ver e a também a querer entender um pouco mais o São João. É um ciclo que rejuvenesce a festa. No fim, lancei uma música com o Fagner e toquei essa  música em um show que fiz no Nordeste. Foi incrível. É um pensamento constante: “O que eu posso fazer para construir menos muros e mais pontes">

Alok
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Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

Quais são seus planos de carreira? Ou você vai vivendo  um pouco a cada ano?

Minha carreira hoje está muito pautada no que faço no exterior, mas tenho a missão de traduzir tudo que vivo lá fora aqui, no Brasil. Quero que entendam que é possível. Meus planos para o futuro próximo são lançar um documentário sobre o Futuro Ancestral, fazer uma parceria com o Coldplay, chamar mais artistas regionais para shows no Brasil...

É uma oportunidade muito legal de valorizar esses  artistas. E você fala de ancestralidade, mas transita bem na tecnologia. Como você vê a inovação tecnológica na sua arte?

A minha música começa a ser feita através de tecnologia. Desde muito novo, troquei o videogame por um programa  de produzir música. Quanto mais me aprofundo nisso, mais tenho convicção de que não há nada mais tecnológico do que a natureza. A gente tem essa concepção de que o futuro é apocalíptico, uma cidade neon com carro voador. E se o grande ponto for a tecnologia menos humanoide e mais integrada com a natureza? Usar esses avanços para despoluir os rios, por exemplo. Eu quero fazer parte desse movimento.

Quando a gente te ouve tem a impressão de que você não para nunca, vive fazendo viagens longas... como o Alok descansa?

O maior desafio hoje é trazer esse equilíbrio da carreira com a vida. O momento de lazer que eu tenho é sempre integralmente com a família. Levo eles comigo em algumas viagens, faço exercício físico, brinco com as crianças...  E fujo de festas.

Alok
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Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

Essa calma que você transmite não é sua realidade todos os dias? Você é uma pessoa que perde a paciência facilmente?

Sim, eu sou. Fui muito explosivo na minha vida. Acho que  esse ímpeto também me trouxe a esse ponto da carreira. Antes, se houvesse uma porta trancada, eu pensava em quebrar a fechadura em vez de abrir. Isso me levou até  certo lugar, mas depois começou a me prejudicar de diversas maneiras. Depois de

amadurecer, você vai aprendendo. ei a ficar mais calmo porque entendi que, quando  eu me desestabilizava, a consequência era muito maior. Mas sou ansioso, sim, e isso reflete no meu jeito workaholic. Até no dia off eu quero fazer algo.

Como foi lidar com essa ansiedade durante a segunda gravidez da Romana, no momento em que vocês lidaram com a Covid, que resultou no parto prematuro da Raika?

Foi o momento mais difícil da minha vida porque eu me  senti muito impotente com a situação. Quando vi a Romana e minha filha na UTI, aquilo era a coisa mais importante  da minha vida. Entreguei tudo para Deus. Ali, eu não tinha como quebrar as portas trancadas, como falei há pouco. Tinha só que esperar. Não quero que achem que minha vida é perfeita. Está longe de ser.

Eu me emociono ao falar do nascimento da Raika  porque me senti impotente e não havia nada  que pudesse fazer ali a não ser ter fé.

E o público recebe bem essa sinceridade, não é?

Há um positivo entre as pessoas. Acho que  quando eu faço uma carta aberta falando sinceramente  o que sinto, elas entendem que ansiedade ou depressão  não é algo exclusivo delas. Até o Alok tem. Isso acaba  fazendo com que eu queira, de alguma maneira, me abrir  um pouco mais para as pessoas.

A gente só a nas redes sociais a parte boa, né?  As pessoas não têm ideia do quanto de fragmento  tem na história de cada um. Tenho vários assim:  peças que quebraram em mim e foram difíceis de reconstruir, mas serviram como aprendizado.

Para encerrar, conta para a gente como tem sido  a parceria do Instituto Alok com Vini Jr.?

Lá em 2015, quando eu estava naquele momento “deprê”, percebi que não ia mudar o mundo, mas podia transformar  a realidade daquelas pessoas. Foi muito inspirador.  Não queria curar as coisas só no game no qual eu era personagem. Entendi, então, que o instituto nasceu para materializar a vontade de ajudar quem já faz projetos maravilhosos. Como é que eu posso contribuir com projetos  já existentes? Estudo a questão financeira e a minha imagem porque há causas que não precisam de recursos, precisam  de visibilidade. Com o Vini Jr., estamos montando uma escola antirracista. A grande virtude do instituto é não ser um transatlântico, mas sim um jet ski que vai em várias direções: desde microcrédito às pautas indígenas, às do movimento negro, à da alimentação. Somos livres para apoiar o que toca meu coração. Outro dia, vi que a maior taxa de mortalidade infantil é por causa do consumo de água que não foi purificada. Já instalamos postos de água potável em  20 cidades. Acho muito bom poder fazer isso. 

Alok
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Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

O que faz a cabeça de Alok 3fk4y

Nos fones:

• Eletrônico: “Para entender o mercado e os rumos da música.”

• Reggae: “YG Marley, o neto de Bob Marley, lançou músicas incríveis.”

• Pop: “Eu amei ouvir ‘Hit Me Hard and Soft’, álbum da Billie Eilish.”

•  Regionais brasileiras: “Na época da festa de São João, ouço bastante Luiz Gonzaga para entrar no clima.”

•  O que bomba fora: “Se estou na Coreia do Sul, escuto o top 50 de  lá para entender como o país consome música.”

Alok
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Foto: IRVIN RIVERA / GRAPHICS METROPOLIS

Na tela:

“Gosto de consumir conteúdos  e documentários sobre história  e entender como é que o ser  humano chega naquele ponto.”

• “The Chosen”, na Netflix.

•  “Os Mistérios dos Guerreiros de Terracota”, na Netflix.

•  “Testamento: A História de Moisés”, na Netflix.

•  “Hitler e o Nazismo: Começo, Meio e Fim”, na Netflix.

•  Episódios do canal Nostalgia, no YouTube, do Felipe Castanhari.

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Fonte: Velvet Conteúdos da revista Velvet