Mirella Archangelo, a mini Gloria Maria, recusa comparações: 'Não dá pra substituir' g4ev
Em entrevista à CARAS Brasil, a jovem Mirella Archangelo, que ficou nacionalmente conhecida como mini Gloria Maria, reflete sobre o legado da jornalista 5ud56
Mirella Archangelo (18) virou estrela nacional ao conquistar o coração de Gloria Maria (1949-2023) aos 11 anos. Na época, a jovem brincava de fazer reportagens sobre os problemas do seu bairro com os irmãos mais novos. Hoje, estar em frente às câmeras ganhou um novo significado: Mirella se descobriu no jornalismo e, em 2025, começou a faculdade na área. Em entrevista à CARAS Brasil, a "mini Gloria Maria" recusa comparações com a pioneira: "Não dá pra substituir", declara. 3e5871
Nova Glória Maria? g7017
Aos 18 anos e iniciando a graduação de jornalismo, Mirella está acostumada a ser comparada com Gloria Maria. Apesar do orgulho em fazer parte do legado da jornalista, a jovem é firme em dizer que não existe uma "nova Gloria".
"Quando me colocam como substituta, eu falo que eu não gosto. Não dá pra substituir a Gloria Maria. Não tem como fazer isso. Ela foi a pioneira, ela foi a primeira, ela abriu muitas portas que hoje, graças a ela, eu não vou ter que batalhar tanto pra abrir", diz.
As comparações e expectativas pelo futuro de Mirella existem desde a sua infância, quando a jovem viralizou como "mini Gloria" por gravar vídeos simulando reportagens no bairro onde mora. Desde então, o jornalismo ou a fazer parte da rotina de Mirella.
Antes com o sonho de se tornar professora, hoje a jovem é caloura de jornalismo com bolsa em uma faculdade particular de sua cidade natal, onde também segue produzindo conteúdo para as redes sociais. Com presença articulada e escuta madura, ela usa o espaço digital para falar sobre racismo, jornalismo, cultura e representatividade, compartilhando seus sonhos com o público.
Mudança de vida 5727h
Quando Mirella começou a gravar vídeos entrevistando os irmãos mais novos e comentando os problemas do bairro, não imaginava que a sua vida iria mudar. O que era brincadeira virou vídeo viral, depois reportagem de TV e, por fim, um encontro com Gloria Maria.
E assim como Gloria faz parte da história de Mirella, a jovem também é um pedaço memorável do legado da jornalista consagrada. Por isso, a estudante foi convidada para fazer parte do documentário Gloria, produção que mergulha na vida da profissional que abriu caminhos para jornalistas negros na televisão.
"Não vou substituir a Gloria Maria, não quero substituir a Gloria Maria. Só pretendo continuar esse legado dela, com muita consciência e com muita gratidão por tudo que ela fez. E não só ela, mas também todas as jornalistas que vieram e que estão vindo junto comigo", fala sobre fazer parte do legado.
Jornalismo como escolha 1v71u
Quando decidiu de vez ser jornalista, Mirella enfrentou um novo desafio: em sua cidade, Ribeirão Preto, as opções para cursar jornalismo em uma faculdade pública são inexistentes. Apesar de muitos convites e incentivos para estudar em uma grande universidade federal ou estadual, Mirella optou por permanecer com a família em Ribeirão.
Ela relata que pensava em mudar para São Paulo, com a ideia de ter uma trajetória comum dos filmes americanos — sair de casa e viver a vida de uma jovem adulta universitária —, mas a realidade bateu cedo. "Durante uma viagem com a escola, ouvi de um universitário da USP que muitos jovens am dificuldade, não têm o que comer e não sabem onde vão dormir, que não era uma realidade tão fácil quanto as pessoas vendem para você".
Ela ponderou com a família e viu que, se fosse embora, colocaria em risco o bem-estar dos irmãos: "Foi quando coloquei meus pés no chão e percebi que meus pais não teriam condições de me manter em São Paulo e ainda sustentar meus três irmãos aqui. Uma questão que ficou muito clara pra mim era que, se eu fosse, os meus três irmãos ariam dificuldades em casa", lembra.
A decisão, que poderia parecer uma desistência, foi, na verdade, um ato de coragem e responsabilidade. "Agradeço muito que não fui, porque hoje faço a faculdade particular aqui na minha cidade. É muito mais fácil! Ainda assim, eu enfrento desafios, óbvio. Faço a faculdade à noite, chego em casa praticamente meia-noite todos os dias... Não é fácil a rotina, mas é mais tranquilo do que se eu estivesse distante".
Racismo e representatividade 646t
Ainda que tenha começado a estudar o jornalismo academicamente apenas esse ano, Mirella tem uma vida ativa como produtora de conteúdo online. Refletindo sobre a representatividade no audiovisual, ela fala abertamente sobre as barreiras que jovens negras enfrentam para chegar à televisão:"Tenho certeza que há muitos jornalistas negros capazes de estar ocupando determinados espaços ali e que infelizmente, por conta do racismo estrutural, eles não são escolhidos para as vagas", declara.
A jovem lembra do relato de uma jornalista que precisou prender o cabelo black power para ser contratada: "Quando essa jornalista com cabelo black foi entrar no primeiro emprego dela, eles não deixavam ela utilizar o cabelo natural. Falavam que ela tinha que prender o cabelo", relembra.
Para lutar contra esses preconceitos, Mirella defende uma representatividade que também se constrói na sutileza: "Quero trabalhar nessa parte cultural e trazer a questão da negritude, da raça, da população negra, de modo indireto. Percebo que muitas vezes as pessoas que não querem falar sobre esse assunto, que não querem escutar sobre esse assunto, mas acabam aprendendo dessa maneira, sem nem perceber que aprenderam".
Ela cita como exemplo da ideia uma amiga jornalista que sempre escolhe pessoas negras para entrevistar."Não necessariamente ela precisa olhar para as pessoas e falar assim: 'Olha, isso aqui são pessoas negras. Existem pessoas negras, por exemplo, dentro da área da medicina. Olha, existem pessoas negras ocupando cargos altos'. Não, ela não tá fazendo isso, mas quando ela traz pra entrevista dela uma pessoa negra, ela já tá ando uma mensagem".
Sonhos futuros x1h5z
Se depender dos planos de Mirella, o jornalismo será seu aporte para o mundo. "O meu sonho mesmo, assim, sonhando bem alto, é fazer carreira internacional. Quero ser correspondente ou trabalhar em um jornal internacional". A estudante se divide entre a paixão por países africanos e a compreensão de que o mercado valoriza destinos como Estados Unidos e Europa.
"Queria ser correspondente de algum país africano, mas se fosse por essa questão mais jornalística, seria os Estados Unidos, o Canadá ou Inglaterra, que a gente sabe que, querendo ou não, os jornais aqui do Brasil focam bastante".
O gosto por estúdio, câmera e apresentação permanece forte na vida de Mirella: "Sou fascinada! Acho que por ter contato desde muito nova, ter sido a primeira área com a qual tive contato, é o que mais me atrai por enquanto". Mas ela não descarta mudanças: "Na faculdade, eu tô tendo o a mais estilos! Tô tendo aula de rádio agora, então tá sendo uma experiência nova conhecer isso e praticar".
Ao falar de inspirações, ela faz questão de citar cada uma. Maju Coutinho (46), Zileide Silva (66), Ducineia Novaes (69), Letícia Vidica (40), Aline Midlej (42), Flávia Oliveira (55), Silvia Nascimento (48), Danielle França (produtora do documentário) e tantas outras. "iro todas as herdeiras de Gloria. As que conheço e as que ainda estão por vir."
Na visão de Mirella, ser herdeira de Gloria é também continuar a corrente de apoio. "Toda menina que sonha em segurar um microfone é uma herdeira. E a gente precisa se ajudar, porque o caminho não é fácil, mas é lindo", conclui.