Saneamento Básico e Ilha das Flores retornam aos cinemas ainda atuais 4z2v1i
Com distribuição da Sessão Vitrine Petrobras, os filmes de Jorge Furtado estreiam nesta quinta-feira, 29 de maio, nos cinemas brasileiros 3er21
O retorno em conjunto de Ilha das Flores (1989) e Saneamento Básico, o Filme (2007) aos cinemas em 2025, após mais de três décadas e quase vinte anos de seus lançamentos, respectivamente, não apenas reacende o brilho de duas obras-primas do cinema brasileiro, como também convida o público a revisitar, no ambiente coletivo da sala escura, a trajetória criativa e política de Jorge Furtado, um dos cineastas mais inventivos e conscientes da nossa cinematografia. 1a6j5y
Embora formalmente muito distintos — o primeiro um curta documental ácido e experimental, o segundo uma comédia ficcional leve e popular —, ambos os filmes são expressões complementares de uma mesma inquietação: a urgência de refletir sobre as contradições sociais do Brasil. Sobre como desigualdades, burocracias e ausências estruturais moldam a vida cotidiana, seja nos espaços urbanos degradados, seja nas pequenas comunidades do interior.
Furtado, ao longo de sua carreira, experimentou múltiplas linguagens para tratar de temas recorrentes: a precariedade das políticas públicas, o abismo social, a inteligência popular como resistência. Em Ilha das Flores, essa denúncia se dá por meio da ironia afiada, da velocidade do discurso e de uma montagem fragmentada que desconstrói a aparente neutralidade científica, revelando a brutalidade com que o sistema de consumo descarta coisas e pessoas.
Já em Saneamento Básico, a crítica surge em tom de farsa, quando uma comunidade percebe que só conseguirá solucionar um problema básico — a construção de uma fossa — se fizer uso das engrenagens do próprio sistema, burlando-as com criatividade e afeto.
Essa dimensão metalinguística de Saneamento Básico merece destaque: ao colocar no centro da trama o próprio fazer cinematográfico, o filme não só denuncia a ineficiência burocrática, mas também celebra o cinema como instrumento de transformação, resistência e, acima de tudo, como espaço de encontro.
É uma obra que, ao rir de si mesma, exalta com paixão e afeto a capacidade do cinema de mobilizar pessoas, de despertar talentos e de dar voz a quem geralmente não tem. Nesse sentido, há uma ponte invisível mas potente entre o curta e o longa: ambos são declarações de amor ao poder da linguagem, seja a linguagem científica desmontada pela ironia, seja a linguagem cinematográfica exaltada pela comédia.
Assistir hoje, em pleno 2025, a essas obras remasterizadas em 4K — em versões que ficaram belíssimas, por sinal — é mais do que um exercício nostálgico ou uma ação de preservação: é uma convocação para que novas gerações conheçam e se inspirem no cinema brasileiro como espaço de criação estética e de reflexão social.
Em um momento no qual o consumo audiovisual se fragmenta nas telas individuais e no streaming, o relançamento dessas obras no formato original para o qual foram concebidas, o cinema, reafirma a importância da experiência coletiva, do riso compartilhado, do silêncio cúmplice diante da imagem projetada.
Além disso, rever Ilha das Flores hoje é confrontar, com mais de trinta anos de distância, uma questão que permanece assombrosamente atual: como seguimos sendo um dos países mais desiguais do planeta? A pergunta que motivou Furtado à época segue atual, talvez com ainda mais urgência.
Do mesmo modo, Saneamento Básico ressurge como lembrete de que os dilemas sobre infraestrutura e gestão pública seguem marcando a vida de milhares de brasileiros, mas que, apesar das limitações, a inteligência coletiva e o humor são armas potentes de resistência.
O brilho do elenco de Saneamento Básico, que conta com Wagner Moura (O Agente Secreto), Camila Pitanga (Beleza Fatal), Lázaro Ramos (O Homem que Copiava), Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui), Bruno Garcia (De Pernas pro Ar), entre outros, reforça a potência desse filme como uma comédia popular sem abrir mão da crítica. E se Ilha das Flores permanece como referência acadêmica incontornável, Saneamento reafirma o cinema como festa, como encontro, como mobilização.
Em suma, o relançamento de ambos, portanto, não é só um tributo ao legado de Jorge Furtado, mas também uma oportunidade simbólica de lembrar que o cinema brasileiro segue vivo, necessário e capaz de provocar, emocionar e transformar. Filmes como esses, ao voltarem aos cinemas, nos recordam que pensar o país com humor, com dor, com paixão é um gesto que nunca perde sua importância.
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